Vila Fria não tinha nada de fria na tarde em que Fátima Cruz desceu da carrinha da Cruz Vermelha, de sacola de palha cor de rosa, óculos de sol e vestido largo e estacionou o corpo no muro que rodeia o edifício da junta de freguesia, com vista privilegiada para o cemitério.
Foi ali medir a tensão arterial para se certificar do que já sabia: ela nunca foge muito dos números habituais – nem com o calor que se faz sentir. “Já o meu marido tem mais complicações”, sussurra-nos, ao mesmo tempo que o olhar parece ganhar vontade própria e se desvia para o homem “trajado à Benfica” que troca palavras em alemão com a enfermeira Laura Cardoso.