Tudo começou em Setembro de 2019 na histórica casa da família Louis Vuitton nos arredores de Paris. Apesar do ambiente art nouveau da mansão, o tema da conversa que reuniu os líderes do luxo foi o futuro e a inovação. Em particular, a tecnologia blockchain, mais conhecida como a base da Bitcoin e outras criptomoedas.
Esta foi uma iniciativa inédita que juntou os responsáveis mais seniores dos grandes grupos de luxo, habituados a uma concorrência feroz pelos apetites de consumo dos clientes. É como imaginar BMW, Mercedes e Audi a colaborar numa plataforma comum de carros elétricos ou autoguiados…impensável? Talvez nem tanto.
Foi com esta mentalidade de colaboração – sinal dos tempos - que os gigantes do luxo LVMH, Richemont e Grupo Prada se juntaram à volta da mesa para criar uma solução inovadora focada em melhorar a experiência de luxo dos seus clientes. Nasceu a Aura Blockchain Consortium, o primeiro sistema global criado para marcas de luxo, baseado na tecnologia blockchain, desenvolvido pela Consensys e Microsoft. É uma plataforma que permite monitorizar os produtos ao longo de toda a sua vida, desde a produção até à venda, incluindo mercados de segunda mão.
Está a pensar comprar uma camisola de caxemira Prada ou um relógio Cartier em segunda mão? Através da etiqueta RFID ou do QR code, vai conseguir validar a autenticidade de cada peça, por quantas mãos passou, e a história envolvida no fabrico daquela peça. É assim oferecida transparência ao longo de toda a vida do produto, garantida pelos registos na plataforma. E como estamos a falar de luxo, a qualidade intrínseca significa que as peças são feitas para durar e serem estimadas…cada vez mais importante num mundo que valoriza o consumo sustentável, em que “less is more”.
Para as marcas de luxo, a Aura Blockchain Consortium representa uma ferramenta poderosa em 3 áreas críticas. Primeiro, na guerra contra as falsificações - a maior praga da indústria do luxo - que representa perdas de biliões de euros por ano. Segundo, permite o controlo sobre os seus produtos no mercado de segunda mão. O aluguer e revenda de vestuário, acessórios, relógios e joias de luxo já representa um volume de negócios de 28 mil milhões de euros, uma fatia relevante de 12% do mercado total em 2020. E tudo indica que este mercado secundário, também conhecido por pre-loved, é a categoria que mais vai crescer, como se vê pelo interesse reforçado em plataformas como a Vestiaire Collective e The Real Real. Através do certificado digital de cada produto, as marcas podem acompanhar a sua trajetória à medida que mudam de mãos. Até agora, a Louis Vuitton só sabia a quem tinha vendido a sua icónica carteira Speedy se fosse comprada numa das suas lojas. Tudo o que se passava depois de sair da porta (real ou virtual) estava fora do seu controlo. Com a plataforma Aura, a marca tem acesso a todas as transações subsequentes. Desta forma poderá acompanhar toda a vida útil das suas criações, e criar ligações diretas com os seus clientes ao longo do tempo.
O consórcio apresenta um convite aberto a todas as marcas de luxo, grandes e pequenas, e promete flexibilidade aos membros. Ao contrário de outras plataformas blockchain tais como Arianee e VeChain, a Aura é privada; só as marcas filiadas têm acesso aos dados. E para se juntar ao “clube”, as marcas têm que passar por um processo de validação desenhado para garantir o código de conduta e a proteção de dados. Há que manter a exclusividade. Afinal, estamos a falar de luxo.