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Justiça

Carlos Alexandre envia Xuxas para julgamento, livra dois suspeitos da rede e manda prender dois elementos do grupo que estavam em liberdade

Rúben “Xuxas” Oliveira vai ser julgado pelos crimes de tráfico de droga, branqueamento e associação criminosa. O mesmo vai acontecer a José “Xulinhas” Afonso, outro dos cabecilhas de um dos mais importantes grupos de traficantes de droga do país

Rúben “Xuxas” Oliveira foi detido em junho por tráfico de droga. O seu irmão Dércio foi preso quatro meses depois
d.r.

O juiz Carlos Alexandre ordenou que Rúben “Xuxas” Oliveira e os principais membros do seu grupo sejam julgados por tráfico de droga, associação criminosa e branqueamento nos exatos moldes de que eram acusados pelo Ministério Público. A decisão foi tomada esta tarde no Tribunal Central de Instrução Criminal.

Quase todos os arguidos vão a julgamento, inclusive José “Xulinhas" Afonso, outro dos membros mais importantes do grupo. Ricardo Macedo, cunhado do chefe; Dércio Oliveira, irmão e Carla Sofia, ex-mulher, também serão julgados no processo.

Ainda assim, o juiz que está a caminho do Tribunal da Relação de Lisboa não pronunciou dois arguidos: Paulo Joaquim, um estivador que está preso à conta de outro processo e, segundo o Correio da Manhã, um arguido que terá tido uma participação numa operação de tráfico no aeroporto .

Segundo a decisão instrutória a que o Expresso teve acesso, Carlos Alexandre agravou ainda as medidas de coação a dois arguidos que estavam em liberdade: um vai para a cadeia e outro para casa com pulseira eletrónica. G.S., o dono da empresa que importou as papaias onde vinha escondida a cocaína que foi apreendida pela PJ e que se diz enganado pela rede de tráfico, vai voltar a estar preso em casa com pulseira eletrónica.

José Gaspar, que foi preso em flagrante durante uma operação anti-tráfico no aeroporto, ficará em prisão preventiva numa cadeia. O processo passa a ter um total de oito presos preventivos: Xuxas, Xulinhas, Ricardo Macedo, Dércio Oliveira, Punil Narotamo, o homem responsável pelas operações no aeroporto; Luís Gonçalves, operacional, mais José Gaspar e Gurvinder Singh.

Defesa apostou no ataque ao Encrochat mas sem resultados

De resto, o juiz manteve a acusação da procuradora Sandra Pontes deitando por terra as pretensões da defesa dos principais arguidos que tentaram demonstrar que Rúben “Xuxas” Oliveira foi preso com base em informações falsas e que toda a prova recolhida no Encrochat - um sistema de comunicações encriptado muito usado pelas redes criminosas que permitia o anonimato e que foi desmantelado pela polícia francesa em 2020 - é ilegal.

Há transcrições de conversas entre membros desta rede de tráfico de cocaína no Encrochat referindo-se à existência de malas com dinheiro. A Judiciária e o Ministério Público acreditam que se encontrem algures em Portugal, mas desconhecem o seu paradeiro exato. E nos interrogatórios judiciais aos arguidos desta rede nada foi apurado.

Existem também muitas imagens trocadas pelo grupo no Encrochat onde se exibem a manusear grandes quantidades de maços de notas e também de droga, sobretudo para servir de prova aos aliados e cúmplices de que estavam na posse daquele dinheiro.

Segundo a acusação do MP, os arguidos que vão a julgamento juntaram-se “para se dedicarem, reiteradamente, às atividades de tráfico em que o primeiro [Xuxas] determinava os investimentos, ordenava as compensações, estipulava os preços de venda, onde e quando se abasteciam dos estupefacientes, a quem os vendiam e onde eram guardados, assim financiando aquela atividade e determinando as tarefas a que os outros obedeciam”.

António Freitas, o “doutor”, é um licenciado em Direito que terá tido um papel importante no grupo: “Era o homem de confiança (…) para a parte de ocultação do dinheiro ilícito”. Foi ele quem montou um “complexo esquema” que passava pela aquisição de um “vasto património imobiliário” comprado em dinheiro vivo, passado por debaixo da mesa, E “também planeou e executou a colocação de dinheiro no Dubai”.

Ainda antes do julgamento, o MP pediu o arresto dos bens dois dois principais arguidos: Xuxas e José “Xulinhas" Afonso, incluindo um apartamento que dividiam no Dubai. “Xulinhas” é descrito como colocado num nível hierárquico próximo de Rúben Oliveira”, que tinha como função negociar com organizações internacionais a importação de cocaína, mas também tinha a execução de transportes e a colocação de equipas no terreno para a concretização dos transportes de droga.

Carla Sofia, ex-mulher de Rúben será julgada apenas pelo crime de branqueamento. Durante a fase de instrução, a procuradora fez-lhe um elogio envenenado: é uma “mulher inteligente” que manteve sempre o emprego para dar uma “aparência” de legalidade à vida que levava.