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Integração

Só 2,8% dos funcionários públicos têm incapacidade, a lei obriga a 5% por concurso: 20 anos depois, Estado continua a falhar na integração

“Quando o Estado não dá o exemplo, tem pouca legitimidade para exigir o cumprimento da lei no sector privado", diz uma investigadora

Aianura Biague começou como operadora de caixa no El Corte Inglés, em Lisboa. Depois, foi integrada na equipa de recursos humanos como administrativa do posto médico. A empresa tem Selo de Marca Empregadora Inclusiva
TIAGO MIRANDA

Mais de 20 anos após a aprovação da lei que prevê um sistema de quotas nos concursos públicos, as pessoas que trabalham nos serviços do Estado e que possuem um grau de incapacidade superior a 60% representam apenas 2,8% dos funcionários, estando sobretudo inseridos em cargos na jurisdição nos ministérios da Educação e Saúde. Estão empregadas na Administração Pública 21.329 pessoas com deficiência, num total absoluto de 741.127 postos.

A lei em causa entrou em vigor em 2001, definindo que em todos os concursos públicos externos com mais de dez vagas, 5% destas teriam de ser reservadas a pessoas com deficiência; ou seja, um posto. Nem sempre é assim, diz Paula Campos Pinto, coordenadora do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos (ODDH): “Há estratégias promovidas pelos responsáveis da Administração Pública para contornar a legislação. Por exemplo, dividindo um concurso para dez lugares em vários pequenos concursos de dois lugares cada.” A isto, acrescem ainda problemas como a “desconfiança da sociedade” em relação à pessoa com deficiência e o desfasamento entre as necessidades do mercado de trabalho e a formação. “Passam por processos de formação que, em muitos casos, estão desajustados das necessidades do mercado de trabalho. São formações obsoletas.”