Uma equipa de investigação introduziu 100 mil neurónios humanos no cérebro de pequenos ratos para procurar perceber o que acontece durante a doença de Alzheimer. Depois de observar como as células morrem, conseguiu, através de um tratamento oral, impedir essa mesma morte. O trabalho foi publicado na quinta-feira na revista científica Science.
Uma vez que os ratos normais não têm Alzheimer, os cientistas modificaram-nos geneticamente para sofrerem uma acumulação da proteína amiloide. Com a introdução de neurónios humanos no cérebro, foi possível identificar o mecanismo responsável pela destruição neuronal. Dois medicamentos evitaram a morte dos neurónios nos ratos: o ponatinib – para a leucemia – e o dabrafenib – para o melanoma.
“Ainda não existem medicamentos que curem ou ajudem a aliviar os sintomas da doença de Alzheimer. Este estudo poderá ajudar a encontrar terapias para evitar a perda de células neuronais”, afirmou Amaia Arranz, uma das autoras do estudo, ao “El País”.
Na análise, os neurónios humanos mostraram imediatamente as marcas da doença, ou seja, a acumulação das proteínas tau e amiloide e morte celular. Por outro lado, os neurónios dos ratos permaneceram intactos. Estes resultados demonstram, para os investigadores, que existe uma “vulnerabilidade especificamente humana” à doença de Alzheimer.
Os 100 mil neurónios humanos implantados permanecem numa região muito específica. “O cérebro do rato continua a ser um cérebro de rato, com uma pequena parte que contém células humanas. Não vamos criar monstros ou frankensteins”, explicou ao diário espanhol a neurocientista do Achucarro Basque Center for Neuroscience.
As causas do surgimento da doença de Alzheimer continuam por descobrir. Outro dos investigadores que participou no estudo, Bart De Strooper, salientou à BBC que esta é a “primeira vez” em que existe “uma pista sobre como e por que é que os neurónios morrem” nesta doença. Para o biólogo do UK Dementia Research Institute, a descoberta pode conduzir a “toda uma nova linha de desenvolvimento de medicamentos”, o que exigirá anos de investigação.