Ciência

Sonda InSight vai deixar de recolher dados do solo de Marte em julho

NASA confirmou que os painéis solares captam cada vez menos energia devido à poeira. Sismo recordista foi detetado a 4 maio

All About Space Magazine/Getty Images

A sonda InSight vai deixar de recolher dados científicos sobre sismos e a composição do interior de Marte quando os calendários terrestres chegarem ao final de julho. Depois desse momento, a sonda deverá ficar com a capacidade de recolha de dados bastante diminuída, prevendo-se o fim da operacionalidade para dezembro.

Os cientistas da NASA justificaram este fim indesejado com o facto de os painéis solares de 2,2 metros de largura estarem cobertos de poeira marciana e também com as condições meteorológicas que têm reduzido a quantidade de energia que tem sido captada a partir do sol.

Originalmente, a missão marciana tinha como objetivo a recolha de dados científicos durante um período de dois anos terrestres. A NASA cumpriu esse plano, e acabou mesmo por expandir a missão para lá do plano original. Mas para isso teve de contar com algo que, possivelmente, qualquer português logo trataria de classificar como uma solução de desenrascanço.

Perante o facto de os painéis solares captarem cada vez menos luz solar, os cientistas decidiram recorrer aos préstimos do braço robotizado que foi desenhado originalmente para garantir a instalação de sensores no solo e no subsolo numa nova função: a remoção de poeira dos painéis solares.

Os responsáveis da NASA recordam que usaram o braço robótico nessas intervenções controladas remotamente por uma meia dúzia de vezes para garantir acrescentos de operacionalidade – mas agora já não haverá muito mais que se possa fazer. “Um dia haverá tecnologia que permita manter os painéis solares limpos”, antevê Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da NASA, em conferência de imprensa.

Esse dia tão esperado ainda não chegou, como confirmam os dados que a NASA disponibilizou sobre o fim desta missão espacial: no arranque da missão, os dois painéis solares captavam, a cada dia marciano, 5000 watts hora. É a energia correspondente a 40 minutos de funcionamento de um forno elétrico. Com a camada de poeira marciana, os painéis solares já só conseguem captar a energia necessária para alimentar um forno elétrico durante 10 minutos.

Os cientistas da NASA não se deixam abater pelo fim da missão – nem mesmo com as restrições que encontraram no solo, que limitaram parte da captação de dados de uma das sondas. Bruce Banerdt, investigador principal da missão Insight, não se mostrou especialmente frustrado pelas limitações da recolha de dados e até deu ares de satisfação com os préstimos da InSight, "tendo em conta os riscos de aterragem em Marte".

Ao cabo de 3,5 anos de recolha de dados a partir da Elysium Planitia (que poderá ser lida como 'Planície de Elísio' caso alguma vez se adote a tradução para português), a sonda da NASA deverá recolher o braço para a denominada “posição de reforma” ainda durante a primavera.

Nessa altura, o sismómetro deverá continuar a recolher dados e, se tiver a sorte que nem sempre foi uniforme nesta missão, eventualmente poderá repetir a captação de dados referentes a um grande sismo como aquele que ficou registado a 4 de maio, com uma magnitude de 5, que garantiu a entrada direta para o topo dos sismos alguma vez detetados noutro planeta.

Não foi só a nomenclatura que teve de mudar para lembrar leigos e cientistas que os sismos registados no planeta vermelho deverão passar a ser nomeados “martemotos” ou “tremores de Marte”, em vez de terramotos e tremores de terra. “Foi um momento de viragem no estudo dos sismos em Marte”, garante Bruce Banerdt sobre o sismo de magnitude 5. Mais 1300 sismos foram registados pela sonda no período em que operou em Marte.

Os responsáveis não dão a missão espacial por perdida e lembram que permitiu recolher medições e descrições mais precisas sobre crosta, manto e núcleo metálico de Marte. Muitas outras revelações poderão chegar mais tarde.

Depois de cessar a recolha de dados para efeitos científicos por volta de julho, prevê-se que a sonda vá operando até ao final do ano com funções residuais. Mas em Terra, mais precisamente nos laboratórios da NASA, o que resta do orçamento da missão deverá ser encaminhada na extração, processamento e disponibilidade de dados científicos para a comunidade científica.

Esta reta final da missão deverá ainda ter uma duração de cerca de seis meses. Na expectativa dos cientistas, destaca-se a possibilidade de aplicar os conhecimentos noutros planetas – até na Terra.