S2 viaja no espaço a quase 3% da velocidade da luz e mesmo assim só consegue completar uma órbita a cada 16 anos. É uma estrela e, na impossibilidade de dançar à volta de outra estrela (porque as estrelas têm planetas a dançar à sua volta, mas elas mesmas também se movimentam), fá-lo em torno de um buraco negro presente no centro da Via Láctea, o Sagitário A*.
Há 30 anos que a coreografia dos dois era estudada pelo telescópio Very Large Telescope, do ESO - Observatório Europeu do Sul -, a mais importante organização europeia intergovernamental para a investigação em Astronomia.
Foi agora possível saber-se que a órbita da S2 não tem a forma de uma elipse, como Isaac Newton avançou na Teoria da Gravitação. Tal como previsto por Einstein, na sua Teoria da Relatividade Geral, as órbitas encontram-se rodadas relativamente à anterior, fazendo o percurso parecer-se com uma roseta, num efeito nunca antes confirmado numa estrela a orbitar um buraco negro.
“A descoberta fortalece a evidência que aponta para Sagitário A* ser um buraco negro supermassivo com 4 milhões de massas solares”, testemunha Reinhard Genzel, o cientista por detrás do programa de 30 anos que deu origem ao resultado agora observado por uma equipa internacional com participação portuguesa.
Paulo Garcia, Vitor Cardoso e António Amorim, professores na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, no Instituto Superior Técnico e na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, respetivamente, construíram um sistema que permite “obter imagens do ambiente próximo do buraco negro, bem como posicionar as fibras óticas que levam a luz ao núcleo do instrumento”, explica António Amorim.
Mesmo “na proximidade de um buraco negro com milhões de massas solares”, adverte Vitor Cardoso, a descoberta vem confirmar a validade da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein, a dois dias de se assinalarem 65 anos da morte do físico, este sábado.