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Na Bélgica, os trabalhadores do sexo têm contrato, subsídio de desemprego, férias e pensões; em Portugal, há quem defenda o mesmo?

A 3 de maio, o país aprovou uma lei laboral histórica que confere medidas de proteção social a estes profissionais, levando mais longe o processo de descriminalização gradual iniciado em 2022. Em Portugal, o exemplo belga é elogiado por duas especialistas e pelo Movimento dos Trabalhadores do Sexo, que vê no diálogo o ponto de partida para caminhar em direção à mudança da lei e das mentalidades

Andreas Rentz/Getty Images

Nos últimos seis anos, Daphné mentiu vezes sem conta sobre a sua profissão. Inventou mil e uma desculpas para não revelar o que fazia a ninguém, nem mesmo a quem lhe era mais próximo; criou uma identidade alternativa, deu por si refém do estigma existente em torno do trabalho sexual. “Os estereótipos perpetuados pela sociedade e pela comunicação social fazem com que seja muito difícil dizeres aos teus amigos e familiares que és trabalhador(a) do sexo”, confessa ao telefone com o Expresso.

Esta foi a maior das violências que sentiu na pele desde que entrou na indústria. Por um lado, levar uma vida dupla induziu-a num estado de cansaço físico e psicológico permanentes. Por outro, os olhares reprovadores omnipresentes fizeram com que, em várias ocasiões, hesitasse em ir à polícia denunciar situações de roubo e violência ocorridas em contexto de trabalho. “Nunca se sabe qual vai ser a reação quando explicarmos qual é a nossa profissão”, declara.