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“A cidade é para morar, não é só para trabalhar!” Milhares de pessoas saíram às ruas pela terceira vez em protesto pelo direito à habitação

Pela terceira vez milhares de pessoas saíram à rua na capital, e noutras cidades, um pouco por todo o país, em protesto pelo direito à habitação. Numa longa caminhada da Alameda à Rua Augusta, jovens, reformados, imigrantes, pessoas de todas as origens gritaram muitas palavras de ordem. Uma das frases que mais se ouviu foi: “Baixem as rendas, prolonguem os contratos"

No meio da multidão de manifestantes, e dos muitos cartazes com frases garrafais que saltavam à vista, fomos interpelados por uma questão singela escrita num cartão com fundo amarelo: “Casa: privilégio ou um direito?”

Quem empunhava esse cartão era Daniela Duarte, uma enfermeira, de 38 anos, que todos os invernos é obrigada a mudar-se do seu quarto para a sala, porque a divisão onde é suposto dormir fica totalmente inutilizada, tomada pelo bolor e infiltrações. O frio invade-lhe a casa, que tem janelas velhas de madeira e muito fraco isolamento térmico. É uma casa portuguesa, concerteza.

A solução são os vários aquecedores ligados e o reforço de roupa quando está em casa. “Nem ouso queixar-me ao senhorio para que faça obras, porque temo que me suba a renda ao ponto de não conseguir pagar ou que me ponha fora e não tenha para onde ir. Aguento-me a viver numa casa que não tem condições de conforto. Mas sinto-me uma privilegiada, porque há quem não tenha onde morar.”, deixa o desabafo e prossegue no percurso.