As duas perícias médicas a que Ricardo Salgado foi submetido recentemente no âmbito dos processos judiciais em que está envolvido concordam na existência de Alzheimer, mas não na gravidade da doença. Se o relatório da perícia realizada no âmbito do processo cível no Tribunal de Cascais afirma que a doença é “moderada” — fase clínica caracterizada pela “dependência de terceiros para algumas atividades básicas” —, sendo “previsível um agravamento progressivo”, o relatório da perícia feita no Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, em Coimbra, a pedido da juíza do processo-crime EDP, apenas descreve a doença como de “início insidioso” e “evolução progressiva”. À pergunta sobre se é “provável” que a situação do ex-presidente do BES se agrave — uma das várias questões a que foi necessário dar resposta —, os peritos Joaquim Cerejeira (psiquiatra), Isabel Santana (neurologista) e Renata Benavente (psicóloga) responderam apenas que a doença é “crónica e progressiva” e que a “trajetória individual de progressão é muito variável”.
Também deixaram claro que, durante a avaliação neuropsicológica solicitada durante a perícia, Salgado terá “exacerbado” as dificuldades que enfrenta, numa tentativa de tornar a doença mais grave do que realmente é. “O examinando efetua relatos de sintomas neurológicos ilógicos ou muito atípicos e sintomas relacionados com distúrbios de memória que são inconsistentes com padrões de comprometimento produzidos por disfunção ou dano cerebral real, sugestivos da tentativa de exacerbar dificuldades”, lê-se no relatório.