O tratamento da doença mental não é simples. É preciso, desde logo, ter acesso a cuidados de saúde, psiquiatras, psicólogos, enfermeiros e outros profissionais da área, e isso nem sempre está garantido. Ultrapassada essa barreira, é muitas vezes necessário — e desejável — combinar diferentes abordagens terapêuticas, da psicoterapia à medicação e outras intervenções. Os psicofármacos, embora sejam essenciais no tratamento da doença grave, nem sempre resultam à primeira, o que obriga a substituí-los por outros que também podem não resultar, até se chegar ao medicamento ou à combinação certa. Mas há uma ‘nova’ ferramenta a ser explorada: a alimentação.
“Começamos a ter evidências de que a alimentação pode influenciar a saúde mental”, diz Gabriela Ribeiro, especialista em nutrição clínica, professora na Nova Medical School e autora de vários estudos sobre comportamento alimentar. Em 2017, uma equipa de cientistas australianos demonstrou, pela primeira vez, que alterações na dieta alimentar têm um efeito positivo na depressão, diminuindo os sintomas. Nesse estudo clínico, conhecido pela abreviatura de SMILES, foi testada uma dieta do tipo mediterrânica — há muito tempo associada a benefícios para a saúde física —, que incluía legumes, peixe e carnes vermelhas magras, ovos, azeite, leguminosas e fruta, entre outros alimentos. “Já havia investigação pré-clínica que apontava para estas conclusões, mas pela primeira vez foram estudadas pessoas”, diz a investigadora, explicando que este projeto pioneiro permitiu criar uma base “sólida” para se investir na área.