Mal a presença humana é sentida, ouve-se uma multidão de cães a ladrar atrás das grades. Os olhos dizem tudo, precisam de uma casa e de um dono que lhes dê afeto e cuidados. Na NAAAS — Núcleo de Apoio a Animais Abandonados de Sintra estão atualmente 205 cães disponíveis para adoção, um número que excede a lotação de 185. A diretora, Isabel Peitaço, à frente desta associação desde 2009, dá conta de que a situação piorou este ano de forma expressiva. “Desde 2021, tivemos um aumento de cerca de 40% de cães devolvidos pelos donos por causa da crise económica e da habitação, com as mudanças repentinas das famílias para casas mais pequenas e até quartos alugados.”
E desfia as histórias de cães que foram ali parar há pouco tempo, como o “Thor”, um rafeiro preto adotado aos dois meses e devolvido mal completou dois anos. “Terá nascido uma criança e o ‘Thor’ deixou de ter espaço na família por razões económicas.” “Balu”, outro cão preto, de dois anos, com olhos cor de mel, chegou o ano passado. A dona teve de mudar de uma vivenda para um apartamento. Os vizinhos queixavam-se, foi devolvido. Os cães “Sky” e “César”, de três anos, passaram também a morar numa daquelas boxes, ou celas para cães, porque os donos emigraram para França. Já a cadela “Princesa”, de quatro anos, foi encontrada amarrada ao portão da associação. Há ainda quem tenha pedido dinheiro emprestado para comprar um cão de raça, mas quando o animal deu despesas médicas foi devolvido. E há os que sobreviveram à morte dos donos mas os familiares não os quiseram.