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Nuno, Joana e Diogo passam horas nas redes sociais, dizem que é “metadona autoprescrita”. Os psicólogos comparam este vício ao da droga

Nas consultas de psicologia e psiquiatria surgem cada vez mais adultos com sintomas de dependência das redes sociais. Não há estudos em Portugal e no mundo sobre a dimensão deste vício digital nas pessoas com mais de 25 anos, mas 
o que parece certo é que o lado viciante de apps como o Instagram ou o Twitter pode comprometer a vida e a saúde mental

O designer Nuno Baltazar já levou o “tema” à sua psicóloga

Mal acorda, a primeira coisa que Catarina Gomes faz é agarrar no telemóvel para fazer a ronda ao Instagram, ao WhatsApp e ao e-mail. Quando dá por si, passou uma hora na cama a navegar entre vídeos reels alea­tórios do Instagram, perfis, páginas de viagens e notícias, atrasando o pequeno-almoço, o banho e as restantes atividades do seu dia. Há uns tempos que esta enfermeira, de 36 anos e atualmente desempregada, se tem dado conta de que esta relação com as redes sociais se tornou um comportamento aditivo fora de controlo. Feitas as contas, Catarina passa cerca de seis horas por dia nas redes, o que a tem deixado menos disponível para o namorado, amigos e familiares e a capacidade de concentração para prazeres como o visionamento de séries e filmes caiu vertiginosamente. “Vivo uma sensação de inquietação permanente. Já me aconteceu estar a ver uma série e pausar para espreitar as redes sociais no telemóvel. É como se estivesse dissociada da realidade, com a falsa sensação de faltar algo que procuro nas redes.” E afirma que já tentou monitorizar o tempo passado no telemóvel ou apagar temporariamente o Instagram. Não funcionou. “Voltei com medo de perder o que se passava no mundo. O que é irónico.” O facto de estar desempregada também não tem ajudado. “O Instagram fun­ciona como escape da vida real.” Frustrada e ansiosa, afirma-se ativamente à procura de ajuda psicológica e determinada a apagar estas apps que a deixam alienada.

Também a jornalista freelancer Joana Ramiro, de 35 anos, residente no Reino Unido e a trabalhar na agência noticiosa Associated Press, se assume viciada no uso das redes sociais Twitter, Facebook e Instagram. “Comecei ativamente pela importância profissional de estar a acompanhar o mundo nas redes, para seguir fontes, cobrir eventos, mas acabei apanhada pelo seu lado aditivo.” Joana revela que passa nas redes “horas infinitas” por temer perder um furo jornalístico se deixar de lá estar. Mas tudo se enreda entre o profissional e o privado. “Acabo a ver vídeos no ­reels de raparigas magérrimas a fazer exercício físico, a falarem de dietas ou a exibirem anéis de noivado.”