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Portugal e o acolhimento de refugiados: “Milenarmente, é uma zona de passagem. Estamos hoje a ter uma diversidade que sempre foi a nossa"

Um acontecimento isolado não pode pôr em causa anos e anos de convivência pacífica entre diferentes comunidades provenientes de diversas partes do mundo. O coordenador da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona receia que o ataque no centro da Comunidade Ismaelita possa iniciar um período de divisões, a que Portugal se vinha mantido alheio, apesar das brechas abertas pela extrema-direita por toda a Europa

Uma família afegã à chegada a Portugal
Horacio Villalobos

Paulo Mendes Pinto observa “uma confusão que facilmente se faz entre o mundo muçulmano e as áreas migratórias dos últimos anos”, uma tendência exacerbada pelos movimentos de extrema-direita que recorrem a discursos de generalização facilitista e preguiçosa. O coordenador da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona teme que o ataque no Centro Ismaelita de Lisboa possa abrir uma ferida num passado recente de convívio pacífico com a diversidade religiosa e pede que não se façam retrocessos. Portugal, com uma tradição milenar de variedade cultural e sendo um ponto em que confluem os fluxos do Mediterrâneo e do Atlântico, tem-se mantido mais cauteloso em embarcar em discursos de ódio do que muitos países da Europa. Mas episódios como aquele que ocorreu esta semana devem ser contextualizados e explicados à sociedade, para que não se cometam equívocos. É o que o investigador Paulo Mendes Pinto tenta fazer, nesta entrevista com o Expresso.