Foi em janeiro do ano passado que Paula Fernandes recorreu aos serviços da Clínica da Mente. Tomara conhecimento da clínica e da técnica criada pelo diretor, Pedro Brás, a psicoterapia HBM (Human Behaviour Map, ou “mapa do comportamento humano”), através da televisão, o que a deixou confiante de que iria finalmente ultrapassar a depressão de que sofre “há mais de 20 anos” e poderia arrumar a medicação receitada por psiquiatras. “Achei que era a minha cura e salvação.” Mas afirma que foi “pressionada” a pagar ‘à cabeça’ um pacote de consultas. “Puseram-me entre a espada e a parede dizendo-me que, de outra maneira, pagaria mais caro, e acedi. Gastei ao todo €1900 por um tratamento que passou de semanal a mensal em pouco tempo.” Esta doméstica, de 53 anos, a residir na Maia, Porto, relata que os tratamentos consistiam em “conversas com uma psicóloga e sessões de hipnoterapia a ouvir música”. A sua queixa sobe de tom ao recordar que, no final dos encontros combinados, sofreu de ansiedade e pediu ajuda. “Passei por crises de pânico, estava com vontade de me atirar da varanda. Dormia umas quatro horas e ficava acordada o resto da noite. Os medicamentos que me tiraram faziam-me falta. Mas a psicóloga da clínica desvalorizou, disse que iria passar. Acabei por recorrer à minha psiquiatra, que me estabilizou, repondo-me a medicação.” Paula considera que pagou por uma ilusão que a deixou mais desequilibrada.
A psiquiatra Inês Homem de Melo, médica no Hospital Magalhães Lemos, no Porto, afirma que esta é só uma das muitas queixas que chegaram ao seu consultório após tratamentos falhados com métodos alternativos para curar depressões e outras doenças do foro mental. “Há uma grande iliteracia nesta área.” Sobre a Clínica da Mente e a técnica de psicoterapia HBM, a médica deixa uma crítica: “Aliciam os doentes a pagarem pacotes de consultas a metro, no valor de milhares de euros, como se fosse uma mensalidade de ginásio de luxo em modo de pré-pagamento. Ninguém pode prometer um resultado em xis sessões para pessoas com quadros clínicos distintos.”