A Polícia Judiciária, na sequência do ataque informático que afetou a Vodafone, iniciou uma investigação criminal tendo em vista “o apuramento da autoria do crime e seus efeitos colaterais”. Para já, a PJ confirma que os hackers não fizeram qualquer tipo de pedido de resgate, ou ransomware, como é conhecido no submundo dos piratas informáticos.
Carlos Cabreiro, diretor da unidade de cibercrime da PJ, disse em conferência de imprensa que a Judiciária está a investigar um único crime informático e a trabalhar em conjunto com o SIS, os serviços de informações, e o Centro Nacional de Cibersegurança, para encontrar os autores do ataque. Uma informação que já tinha sido revelada pelo Expresso ao início do dia.
Este responsável não põe de parte a ligação entre ciberataques anteriores, como os que afetaram o Grupo Impresa ou o site do Parlamento, com o que foi alvo a Vodafone esta segunda-feira à noite. “É prematuro associá-lo a outros ataques que tenham ocorrido nos últimos tempos. Não excluímos essa hipótese, mas não temos esses dados.”
A PJ refere que “a dimensão global do ciberespaço tem potenciado o aumento deste tipo de ataques que, em regra, assumem uma dimensão internacional”. E por estas razões desencadeou de imediato contacto com as suas congéneres, “em sede de cooperação policial internacional”, no intuito de recolher mais e melhor informação. Cabreiro refere que foi feito um pedido de ajuda internacional através da Interpol. “Estes ciberataques estão a acontecer com alguma regularidade em todo o mundo.”
Em estreita articulação com a Vodafone, a Polícia Judiciária disse ainda que está a recolher “indícios e indicadores de compromisso” que permitam “avaliar e conhecer a origem, a extensão e motivação do ato criminoso”.
Sobre as dificuldades da operadora de telecomunicações na prestação dos seus serviços tanto no setor público como no privado, a PJ é taxativa: “Da informação disponível, estas dificuldades estão unicamente relacionadas com esta situação concreta da operadora de telecomunicações de não com outros alvos ou ataques informáticos”.
Ciberataque foi “um ato terrorista”
Esta tarde, poucas horas após o ciberataque, Mário Vaz, presidente da Vodafone Portugal, afirmou em conferência de imprensa que a operadora de telecomunicações foi alvo de um “ato terrorista”, garantindo que não foi pedido resgate por parte dos hackers.
A Vodafone confirmou limitações no INEM, corporações de bombeiros, serviços postais e na rede Multibanco, bem como em contas bancárias validadas por SMS.
De acordo com a empresa, um ataque dirigido à rede de telecomunicações provocou um apagão generalizado nas redes da Vodafone às 21h desta segunda-feira – e a operadora de telecomunicações admite que ainda terá trabalho pela frente até recuperar a estabilidade dos serviços móveis e fixos.
“O ataque foi dirigido à rede. O objetivo foi claramente deixar indisponível o serviço da nossa rede”.
Mário Vaz reiterou ainda que o ataque não expôs dados pessoais de clientes e empresas, e fez questão de informar que foram os serviços de rede e não os sistemas informáticos que suportam o negócio que foram atacados.
Mais de quatro milhões de clientes de rede móvel foram afetados.
Vodafone anuncia restabelecimento da rede 4G
Entretanto, a operadora de telecomunicações anunciou ao final da tarde desta terça-feira que iniciou o restabelecimento dos serviços base de dados móveis sobre a sua rede 4G na sequência de “uma intensa e exigente operação de reposição”.
Este arranque está de momento condicionado a zonas restritas do país, estando gradualmente a ser expandido para o maior número possível de clientes. “O serviço está igualmente sujeito a algumas limitações, nomeadamente no que respeita à velocidade máxima permitida de forma a garantir uma melhor monitorização da utilização da rede, bem como uma distribuição mais equitativa e sustentável da capacidade disponibilizada aos nossos clientes”, acrescenta a Vodafone.