Sociedade

Mais de 50% dos estudantes com sintomas depressivos não procuraram ajuda durante a pandemia

Uma investigação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto concluiu que, embora o número de alunos com sintomatologia grave tenha aumentado, a procura por ajuda não acompanhou esse aumento

Foto: Getty Images

Nem foi logo no início da pandemia que mais se notou a deterioração da saúde mental nos estudantes universitários. A avaliar por uma investigação decorrida ao longo de 18 meses, até março de 2021, quanto mais a pandemia avançava no tempo, mais os estudantes sofriam com sintomas de depressão.

Em 2021, quase metade dos 366 universitários da Universidade do Porto, quase todos caloiros, acompanhados ao longo do tempo apresentaram sintomas de depressão moderada a grave. Mas apesar do aumento significativo da sintomatologia associada à depressão, não houve, por parte dos alunos, uma maior procura de ajuda profissional.

Aliás, mais de 50% dos jovens com sintomas de depressão ou de ansiedade moderada ou grave não recorreram a qualquer tratamento durante a pandemia.

A investigação do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), levada a cabo por Virgínia Conceição e Inês Rothes e coordenado pelo psiquiatra Ricardo Gusmão, usou métodos de questionário em várias fases do acompanhamento, instrumentos que não estabelecem um diagnóstico de depressão ou ansiedade, mas que detetam a presença e a gravidade de sintomas destas doenças. 

Em consonância com o que já tinha sido descrito em estudos anteriores, a maioria dos estudantes reportou dormir menos horas e deitar-se mais tarde do que antes do início da pandemia. 

E por isso, não pelo facto de todos os sintomas serem sinónimos de depressão ou ansiedade, mas por ser este grupo, dos estudantes universitários, um daqueles em que a incidência de doenças efetivas do foro psicológico, em particular a depressão, aumentou durante a pandemia, é importante aumentar a literacia em saúde mental para não se desvalorizarem sintomas.

Os resultados acabam por ser ainda mais preocupantes por já ser este um grupo de risco – 75% das patologias mentais têm um primeiro episódio até aos 25 anos.