Foi aos 37 anos, depois do final de uma longa relação amorosa, que Andreia Vaz voltou a sentir que tinha de fazer algo para não abandonar um desejo de sempre: ser mãe. Sem parceiro, consciente de que o seu relógio biológico começara a acelerar agora que se aproximava dos 40 e que a hipótese de engravidar por via natural estaria a reduzir-se de ano para ano, foi aconselhada por uma amiga embriologista a congelar os seus óvulos para os usar no futuro, numa altura mais oportuna para a maternidade. “Quis criar um plano de contingência para quando as circunstâncias na minha vida pessoal permitissem melhores condições para ser mãe, sem perder a qualidade dos óvulos que tinha nessa idade mais jovem.” Na época a viver em Londres, começou lá a fazer os exames ginecológicos, mas acabou por fazer a criopreservação dos ovócitos (óvulos) numa clínica privada em Lisboa — a AVA Clinic —, porque se sentiu “mais confortável em fazê-lo em Portugal”. Porque o serviço era mais barato e se precisasse de recorrer a um dador preferia que fosse no seu país. O processo médico durou um mês e meio, custou cerca de €2900 [em Londres pagaria à volta de €4 mil], foi emocionalmente desafiante, mas considera ter valido a pena. “Não se trata de expandir a natalidade até aos 50 anos, mas sim de facilitar o processo de maternidade para mulheres saudáveis, como eu, até aos 40 e picos.” Ao todo, Andreia congelou 13 óvulos, mas ainda não recorreu a nenhum. Atualmente com novo parceiro, esta diretora de inovação, de 42 anos, só irá recorrer a eles se não conseguir engravidar de forma natural.
Os casos de mulheres saudáveis que optam por prolongar um pouco o horizonte da maternidade está longe de ser exceção no país. De acordo com dados a que o Expresso teve acesso, desde o início da década o recurso a esta técnica sem motivo de doença tem praticamente duplicado. Senão veja-se: em 2013 começaram por ser 16. Em 2017 já foram 92, um número que quase duplicou em 2018, para 171 casos. E se em 2019 o valor voltou a crescer para os 306, em 2020, ano em que se esperava um abrandamento, os dados preliminares indicam um novo aumento: 365 mulheres saudáveis congelaram os seus óvulos. A presidente do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), Carla Rodrigues, atribui este aumento exponencial a um conhecimento mais fértil da prática. “Mas é necessário mais informação. Há mulheres a acreditar ser possível ter um filho facilmente aos 40.” Mas nessa idade a fertilidade reduz-se drasticamente e 70% dos óvulos têm anomalias.