Esta é a radiografia de um dos cancros mais letais, o do pâncreas: a esperança média de vida após o diagnóstico não ultrapassa os cinco meses e 80% dos pacientes morrem em menos de um ano. Só cerca de 5 a 6% estão vivos ao fim de cinco anos, a percentagem mais baixa entre todos os tipos de tumores nos Estados Unidos e na Europa. Enquanto a sobrevivência à doença não conheceu melhorias significativas nas últimas duas décadas, o número de mortes não parou de aumentar: em Portugal, segundo o Instituto Nacional de Estatística, foram 1653 em 2019, o que faz do cancro do pâncreas a sexta causa de morte por cancro no país. Dentro de uma a duas décadas, estimam os especialistas, será a segunda, logo atrás do cancro do pulmão. Não há como dourar a pílula: o cancro do pâncreas é uma catástrofe.
“É uma epidemia de saúde pública cada vez mais importante. Deixou de ser um cancro relativamente raro e passou a ter um impacto muito grande”, garante Carlos Carvalho, médico oncologista que dirige a unidade de cancro digestivo do Centro Clínico Champalimaud, em Lisboa. Vários fatores contribuem para este cenário negro. Desde logo, o número de pessoas com a doença tem aumentado exponencialmente em quase todo o mundo, sobretudo nos países industrializados. O diagnóstico é geralmente tardio, devido à ausência de um método simples de rastreio que permita fazer um despiste precoce: 8 em cada 10 doentes são diagnosticados em fase avançada e, na altura do diagnóstico, cerca de metade já têm metástases noutros órgãos. Na maioria dos casos, o tumor evolui de forma rápida e agressiva, mostrando-se, nas fases mais avançadas, muito pouco sensível aos medicamentos atualmente disponíveis.