O ano passado, quando as escolas fecharam, Tatiana Gonçalves, de 18 anos, a viver em São Miguel, nos Açores, refugiou-se nas redes sociais. E foi no Instagram onde começou a ser inundada de mensagens de ódio por ser percecionada como uma rapariga transexual em fase de transição: “Maricas”, “porque é que vestes assim?”, “homem que é homem não se veste como tal”, e outras injúrias. Há muito que o seu corpo é alvo de insultos como no poema de Chico Buarque ‘Geni e o Zepelim’, que canta no refrão: “Bota pedra na Geni/ ela é feita pra apanhar/ ela é boa de cuspir/ ela dá pra qualquer um/ maldita Geni”. Na escola, Tatiana já foi tantas vezes Geni, desde que aos 16 anos se identificou como trans. O que mudou nos últimos dois anos é que o bullying passou a ser mais online. “Quando leio essas ofensas sinto tristeza por haver pessoas más, de mentes pequenas. Mas estou mais forte, pedi ajuda à Rede Ex Aequo (dirigida a jovens LGBTQIA+). O que importa é que mudei o nome no Cartão de Cidadão e a minha mãe e o meu irmão aceitam-me.”
Tal como Tatiana, são muitos os estudantes que assumem ter sofrido ao longo da pandemia algum tipo de assédio, humilhação ou ameaça online pelos pares através de mensagens ou partilha de imagens íntimas não consentidas. É o que indica um estudo deste ano, a que o Expresso teve acesso em exclusivo, que refere que 71% dos estudantes foram vítimas de bullying online durante o 2º confinamento. Chama-se “Cyberbullying em Portugal durante a pandemia” e foi realizado por investigadores do ISPA e ISCTE.