Exclusivo

Sociedade

Canábis: a droga que deixou de ser leve

Metade dos primeiros surtos de esquizofrenia atualmente diagnosticados em Portugal estão associados a esta droga

Sofia, 51 anos, está em tratamento para deixar a canábis. Por indicação médica, o desmame deve ser gradual

Depois de vários tratamentos e outras tantas recaídas, Sofia (nome fictício) conseguiu finalmente libertar-se do vício que a levara a viver na rua, a prostituir-se e a roubar. Há 20 anos deixou a heroína e a cocaína, arranjou trabalho, endireitou-se e mudou de vida. Mas nunca largou a canábis. À noite, ao chegar a casa depois do emprego, gostava de fumar uma “ganza” para relaxar. Acreditava que era uma droga diferente das outras, que não causava dependência nem fazia grande mal. “Estava iludida.” Com a pandemia, ficou em teletrabalho e o consumo de erva descambou. Passou a fumar 15, 20 charros por dia. E percebeu que, sozinha, não conseguia parar. Em abril, com 51 anos, voltou a pedir ajuda.

Está longe de ser a única. Só em 2019 (últimos dados disponíveis), o consumo de canábis levou 1038 portugueses a iniciar tratamento em ambulatório e outros 680 foram mesmo internados em comunidades terapêuticas. Atualmente, mais de metade dos novos pedidos de ajuda que chegam aos centros de atendimento a toxicodependentes estão relacionados com esta substância.