Além do desemprego causado pela pandemia, as restrições em várias atividades económicas diminuíram o volume de trabalho e os rendimentos de muitos portugueses, deixando mais de metade da população numa situação em que o que ganha já não chega para pagar as despesas ou está em risco de deixar de ser suficiente. É esta uma das conclusões preliminares do estudo “Impactos económicos, sociais e políticos da covid-19 em Portugal”, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) e divulgado esta segunda-feira.
“Com os presentes dados é possível estimar com 95% de certeza que, entre 55% a 61% da população está numa situação de instabilidade económica, seja por estar em perigo eminente de entrar em desequilíbrio financeiro, ou por já ter entrado em desequilíbrio ao precisar de contrair dívidas para fazer face às despesas correntes do agregado”, afirma Maria Manuela Calheiros, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, que coordenou a análise social do estudo.
Tendo estes dados sido recolhidos durante as moratórias, há ainda um “risco de agravamento”, frisa a psicóloga social. “Esta noção deveria ser incorporada ao nível das medidas de proteção social, tornando-se claro que não é suficiente apoiar trabalhadores que têm vindo a perder as suas fontes de rendimento.”
O uso das poupanças e as dívidas que já estão a ser contraídas vão ter impactos futuros, “uma vez que as poupanças se esgotam e as dívidas têm que ser pagas”. Esses impactos “serão mais ou menos graves dependendo da rapidez e magnitude da recuperação económica já anunciada, por exemplo com os fundos europeus, mas que pode tardar a ter efeitos nas economias familiares”, defende a responsável.
Impacto desigual
Segundo a análise, feita a partir de inquéritos que asseguram a representatividade da população portuguesa, 38% das pessoas dizem estar numa situação de insegurança, “reportando ter gastos equivalentes aos ganhos”, e quase 20% assumem que tem sido necessário recorrer a poupanças ou contrair dívidas para fazer face aos gastos correntes.