Com festa regada a cerveja na Praça da Ribeira, no Porto, os adeptos fervorosos do Manchester City interromperam a calmaria dos meses de pandemia. Espalham cartazes, multiplicam copos vazios de finos nas mesas afastadas dos vários cafés, arrumam camisolas e ficam de tronco, branco, nu a avermelhar ao sol.
É a sua primeira vez na final da Liga dos Campeões, reforça Martin. 'Vivemos até agora na sombra do Manchester United, mas agora conseguimos. Toda esta festa é sobre o City, somos uma cápsula do universo", conta ao Expresso o adepto chegado ao Porto na manhã desta sexta-feira, vacinado e com teste negativo mas que não se metia num avião fazia 15 meses. "A última vez que viajámos para fora deveu-se também a um jogo de futebol, em Madrid, em Fevereiro de 2020", assevera, procurando aprovação dos três amigos que o acompanham.
Estão de pé, afastados da confusão dos adeptos cujo álcool já fala por si em forma de cânticos. 'Ci-Ty', gritam, num sotaque cerrado e sob o mote emblemático dos Queen: 'We are the champions'. Martin responde pelo resto. "É óbvio que qualquer pessoa que adore o City estará aqui", diz. Em contas arredondadas, serão perto de três centenas. Estão "excitados mas também nervosos", "de férias, ao ar livre, com sol" e só têm "de agradecer a Portugal pela excelente organização".
Enquanto uma tuna do ICBAS (Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar) tenta entoar serenatas para as poucas mulheres entre os muitos homens, e juntar algum dinheiro com isso, um homem-estátua desvia atenções - e moedas - dos ingleses. Sempre de olho, a rodear a festa, estão também agentes da PSP, parados mas de escudos e cacetetes na mão, prontos a intervir caso haja desacatos idênticos aos da noite desta quinta-feira.
Sob o ruído da multidão, enquanto duas mulheres estendem a roupa da varanda das casas, uma outra moradora "nascida e criada na Ribeira" desvaloriza o cenário que poderá não deixar dormir a vizinhança. "Antigamente, na Ribeira, era peixe a vender... Com os anos, ficou mais bonita, com as esplanadas, mas tem estado morta desde que começou isto da doença. E digo-lhe uma coisa: mesmo sem doença, se não houver isto dos estrangeiros, fica morta", sublinha, à boa maneira portuense. "Isto é como o FC Porto, se ganhar... A mim não me faz confusão nenhuma, menina".
Uns metros fora da Praça da Ribeira, a cidade parece outra. O barulho, ao longe, não abafa as conversas habituais. Nas mesas, vazias, crianças terminam os trabalhos de casa e jogam à bola. Na rua da Fonte Taurina há um restaurante que tem casa aberta para jantares e um café que se prepara para fechar bem antes das 22h30. "O Valdemar já está fechado", ouve-se. "Está? É porque já faturou tudo por hoje".