A postura descontraída e a voz baixa e pausada contrastam com o que diz: “Estamos a assistir ao colapso do mundo. O colapso está ao virar da esquina e nós estamos aqui na esplanada. O mais estranho até é isso. É estarmos perante uma coisa com uma capacidade destrutiva tão grande e, mesmo assim, estarmos aqui a tomar café”. Não é que se deva abdicar do prazer e das tréguas, até porque “ninguém vai jogar lesionado”, tendo escolhido não cuidar de si próprio, mas as coisas são como são: “A capacidade deste sistema de nos ocultar coisas é tão grande que conseguimos estar perante o maior perigo que a humanidade já enfrentou e seguir com a nossa vida como se nada se passasse”.
O perigo a que Gil Ubaldo se refere são as alterações climáticas. Tem 21 anos e faz parte do coletivo Greve Climática Estudantil, que tem organizado greves, manifestações e outras ações e iniciativas em nome da justiça climática. Como ele, centenas de jovens apresentam sinais daquilo a que psicólogos e outros profissionais da área da saúde mental chamam “ecoansiedade”, ou ansiedade provocada pelas alterações climáticas (o tema será abordado no Festival Mental, numa conversa que terá lugar no São Jorge, em Lisboa, na próxima sexta-feira, 21 de maio). O conceito não é novo mas o termo é recente, tendo surgido num relatório publicado em 2017 pela Associação Americana de Psicologia. Foi definido como um “medo crónico de sofrer um cataclismo ambiental” que ocorre ao “observar os impactos lentos e aparentemente irrevogáveis das mudanças climáticas, gerando uma preocupação sobre o próprio futuro e das gerações vindouras”. Várias das pessoas que sofrem dessa ansiedade, refere ainda a associação, “são profundamente afetadas por sentimentos de perda, impotência e frustração devido à sua incapacidade de sentir que fazem a diferença ao travar as alterações climáticas”.