Sociedade

Quase metade dos portugueses fez menos sexo durante a pandemia. Satisfação sexual também diminuiu

A diminuição da satisfação sexual, como consequência da covid, também foi uma realidade para uma grande parte dos inquiridos, de acordo com um estudo realizado pelo Sexlab, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Consumo de pornografia não sofreu grandes alterações durante a pandemia

NurPhoto/Getty Images

Um estudo realizado pelo Sexlab, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, concluiu que quase metade dos inquiridos (47%) fizeram menos sexo durante a pandemia e 40% deram conta de uma diminuição da satisfação sexual durante o mesmo período, como consequência da covid-19.

Quanto aos que responderam afirmativamente a ambas as questões, dando conta de um aumento seja da frequência do sexo, seja da satisfação sexual, foram 31% e 21%, respetivamente, mostram os resultados do estudo a que o Expresso teve acesso.

As alterações na frequência da atividade sexual com parceiro ou parceira foram sentidas sobretudo pelas mulheres: 41,5% das inquiridas deu conta dessas alterações, quando 36,6% dos homens respondeu da mesma maneira.

Foram também as mulheres que deram conta de uma maior diminuição da atividade sexual (24,4%, em comparação com 22,5% dos homens), embora a percentagem de inquiridos do sexo feminino que reportou um aumento durante o confinamento seja superior à dos inquiridos do sexo masculino (17,1%, a comparar com 14,1%).

Participaram no estudo, designado I-SHARE, 33 países dos cinco continentes a nível mundial. O projeto é liderado, a nível global, por um consórcio incluindo a Universidade de Ghent, a London School of Hygiene and Tropical Medicine e a ANSER (Rede Académica de Políticas de Saúde Sexual e Reprodutiva). Em Portugal, foi conduzido pelo SexLab (Laboratório de Investigação em Sexualidade) e coordenado pelos investigadores Pedro Nobre e Inês Tavares. Em termos de amostra, participaram no estudo 3322 pessoas residentes em Portugal Continental mas também na Madeira e nos Açores, tendo os dados sido recolhidos em setembro do ano passado.

O estudo avaliou outros comportamentos sexuais, nomeadamente a masturbação. A percentagem de mulheres que referiu um aumento e a percentagem que deu conta de uma diminuição da frequência é a mesma (17%), mas o mesmo não sucedeu para os homens: 24% referiu um aumento da frequência e 15% deu conta de uma diminuição.

No que diz respeito ao consumo de pornografia, a pandemia não trouxe alterações para a maioria dos inquiridos. Mas há diferenças entre aqueles que referiram alterações: a percentagem de homens para quem aumentou o consumo é claramente superior à das mulheres (22%, em comparação com 9% das mulheres); já a percentagem de inquiridos do sexo masculino e do sexo feminino que deram conta de uma diminuição é semelhante (11% e 10%, respetivamente).

Pandemia dificultou acesso a testes a infeções sexualmente transmissíveis ou VIH

Há ainda outros dados relacionados com a saúde sexual e reprodutiva: para 41% das pessoas que necessitaram de realizar testes a infeções sexualmente transmissíveis ou VIH, a pandemia impediu ou dificultou o acesso a esses mesmos testes. O acesso a preservativos e a métodos contracetivos no geral não parece, contudo, ter ficado particularmente dificultado por causa da pandemia: apenas 4% e 3% dos inquiridos, respetivamente, revelou ter sentido essas dificuldades.

Em termos de saúde mental, mais de metade dos inquiridos (60%) referiu que houve um impacto negativo, revelando frustração com as medidas impostas (62%), medo de ficar infetado (67%), ou medo de tocar em coisas fora de casa (41%). Um quarto dos inquiridos afirmou ter comportamentos obsessivos/compulsivos relacionados com o vírus da covid-19. Uma percentagem significativa (68%) também se mostrou preocupada com a sua situação financeira.

Questões sobre violência exercida no contexto de intimidade durante o confinamento também foram colocadas aos inquiridos: 8% dos homens e 7% das mulheres afirmou ter sofrido pelo menos um tipo de violência psicológica e/ou verbal por parte do/a parceiro/a, enquanto a violência física foi reportada por uma percentagem menor de homens (2%) e de mulheres (1%).

O laboratório da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto prepara-se para dar início à segunda fase do estudo, que avaliará parâmetros semelhantes mas no contexto do segundo confinamento (para participar, aceda a este link).

Ao Expresso, Pedro Nobre explica que, “além das dimensões já avaliadas na primeira versão”, a equipa de investigadores irá focar “mais em detalhe o impacto nas dificuldades sexuais, prazer sexual e bem-estar sexual, por um lado“ e, por outro, as “questões de violência nas relações de intimidade, entre outras”.

Serão também estudadas “novas dimensões como o uso de aplicações para relações de amizade/namoro/sexuais, ciber-bullying, comportamentos sexuais de risco em contexto de pandemia e uma secção sobre conhecimento e atitudes sobre covid e vacinação”.