Trinta quilómetros separam o hospital de Penafiel do de Amarante. Ambos fazem parte do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (CHTS), na região do país mais atingida pela pandemia, mas a unidade de Amarante é de retaguarda, com uma urgência básica e apenas um serviço de internamento, com 60 camas divididas em duas alas. Desde o início da pandemia que o hospital de Amarante era “covid-free”, isto é, não aceitava infetados. Por isso, não tinha circuitos específicos para casos positivos nem formação para lidar com o vírus. Mas o caos no hospital de Penafiel foi tal que a unidade colapsou e acabou por transferir infetados para Amarante, causando um surto entre os doentes que lá estavam internados: idosos, acamados e com vários fatores de risco.
Por servir alguns dos concelhos com maior número de infetados, como Paços de Ferreira e Lousada, pela porta da urgência do hospital de Penafiel começaram a entrar continuamente doentes com queixas respiratórias. A partir de outubro passou a ter o maior fluxo de infetados do país, atingindo 235 internados para cerca de 450 camas. Aumentaram os tempos de espera, com “doentes a aguardarem 12 horas pela primeira observação médica”, conta um enfermeiro da urgência. Ao mesmo tempo, os serviços de internamento ficavam lotados e “os doentes começaram a acumular-se na urgência, amontoados, sem distância de segurança entre si”, descreve. Ao lado de doentes covid positivos esperavam outros ainda sem confirmação de infeção.