Sociedade

“A desconfiança das vacinas é uma gravíssima ameaça à saúde pública"

Projetos Expresso. A presidente da RESPIRA acredita que a maioria dos portugueses confia na vacinação e lembra que o processo de aprovação destes medicamentos está sujeito a um processo científico rigoroso. Isabel Saraiva falava a propósito do debate “Imunes: da vacinação aos cuidados de saúde gerais”, uma parceria entre o Expresso e a MSD, com transmissão no Facebook do semanário

A conversa, moderada pela jornalista da SIC Notícias Marta Atalaya, contou com presença de Paula Martins de Jesus (MSD) e juntou (da esq. para a dir.) Paula Broeiro (médica de família), Laura Marques (pediatra no CMIN), Isabel Saraiva (RESPIRA) e António Morais (SPP)

Francisco de Almeida Fernandes

A pandemia acelerou, como nunca no ramo científico, a urgência em encontrar uma vacina que permita combater os efeitos da covid-19 ou, pelo menos, evitar a infeção na população. Contudo, um pouco por todo o mundo os movimentos anti-vacinas multiplicam-se e ganham voz, algo que preocupa médicos e especialistas pelo impacto negativo que pode ter na população. “A desconfiança das vacinas é uma gravíssima ameaça à saúde pública”, afirma Isabel Saraiva. A presidente da RESPIRA diz, contudo, que em Portugal a contestação vacinal é baixa e justifica com o recente estudo da União Europeia – de acordo com os números, 95% dos europeus confia na eficácia das vacinas, um número que a responsável pela associação considera “suficientemente expressivo”.

Os ganhos conquistados, ao longo das últimas décadas, através do Plano Nacional de Vacinação (PNV), nomeadamente na erradicação da varíola, estiveram em destaque no terceiro debate do ciclo Imunes, promovido pelo Expresso em parceria com a MSD. “Imunes: da vacinação aos cuidados de saúde gerais”, transmitido esta tarde no Facebook do semanário, analisou ainda a importância da campanha vacinal da gripe sazonal em tempo de covid-19 e procurou perceber qual poderá ser o papel do digital no futuro da saúde. A conversa, moderada pela jornalista da SIC Notícias Marta Atalaya, contou com a presença de Isabel Saraiva (RESPIRA), Paula Broeiro (médica de família na Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados dos Olivais), Laura Marques (pediatra no Centro Materno-Infantil do Norte) e António Morais (presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia).

Conheça as principais conclusões:

A importância de prevenir a doença

  • Paula Broeiro destaca que “Portugal é um exemplo na cobertura vacinal na Europa”, algo que só é possível com um “PNV eficaz e bem articulado”, concorda Laura Marques
  • Os especialistas lembram que o principal propósito das vacinas está na prevenção da doença, diminuindo a sua prevalência na população. Este efeito pode traduzir-se numa menor valorização das vacinas por não existir “memória da doença”, defende Paula Broeiro
  • Apesar de concordar com as conquistas do PNV, António Morais lamenta que a cobertura da vacina para a pneumonia no país não seja tão positiva quanto a antigripal, já que é responsável pela terceira principal causa de morte em Portugal
  • A presidente da RESPIRA sublinha que são os doentes crónicos quem mais sofre com estes números e que barreiras como o custo não ajudam a inverter a situação
  • Sobre a campanha de vacinação para a gripe sazonal, os especialistas são unânimes em relação à adesão da população em período pandémico e assinalam a especial relevância desta decisão, uma vez que pode ajudar os profissionais de saúde a fazer uma melhor triagem entre casos de covid e de gripe.

Recuperar o atraso através do digital

  • Apesar de todos concordarem que as novas tecnologias, impulsionadas durante os últimos meses, podem desempenhar um papel importante na prestação de cuidados de saúde, Paula Broeiro e Isabel Saraiva lembram que os mais idosos e pessoas que vivam fora dos grandes centros urbanos têm mais dificuldade neste tipo de contacto
  • Por outro lado, o presidente da SPP defende que o digital “não pode, de forma alguma, substituir a relação médico-doente, nomeadamente em doenças mais graves” que precisam de acompanhamento presencial
  • Os cuidados de saúde ao domicílio - já existentes, mas agora reforçados - e a adaptação do SNS à realidade pandémica permitem que nos próximos meses se consiga recuperar os atrasos nas consultas, diagnósticos e outros atos médicos
  • O reforço da capacidade de testagem rápida à covid-19, defende António Morais, será também fundamental para ajudar a uma melhor utilização dos recursos humanos no SNS a curto e médio prazo.