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Chiara Manfletti, ex-presidente da PTSpace: “Deixei Portugal porque estou a concorrer a diretora-geral da Agência Espacial Europeia”

A cientista italiana está muito otimista com os avanços conseguidos no sector em Portugal durante os 18 meses que esteve à frente da agência espacial portuguesa. E diz que a presidência da UE que Portugal vai ocupar em 2021, bem como a copresidência da Agência Espacial Europeia com França e a liderança de outras organizações europeias, “vão colocar Portugal no mapa internacional do Espaço”

TIAGO MIRANDA

A sua saída do cargo de presidente da PTSpace apenas um ano e meio depois de ter tomado posse surpreendeu muita gente, devido ao entusiasmo que sempre tem demostrado. A informação oficial é que vai ocupar novas funções na Agência Espacial Europeia (ESA) como diretora do Departamento de Políticas e Programas. O que aconteceu verdadeiramente?
Para as pessoas de fora foi uma surpresa, mas eu vim para Portugal destacada pela Agência Espacial Europeia (ESA) e estas situações têm um começo e um fim e estava previsto que eu regressasse à ESA. Quando o Governo português me pediu para vir, não acordámos que eu ficaria como presidente da PTSpace um ano, dois, três ou cinco. Mas quando uma pessoa sai prepara a saída e por isso vou voltar para a ESA e ocupar novas funções - concorri ao cargo de diretora do Departamento de Políticas e Programas e ganhei esta posição. O que é importante é que as pessoas não pensem que me vou embora porque alguma coisa correu mal, pois não foi isso que aconteceu.

Há pessoas ligadas ao sector espacial que dizem que tudo aconteceu porque se candidatou ao cargo de diretora-geral da ESA porque o mandato do atual diretor, Jan Worner, termina em meados de 2021. É verdade?
É verdade, concorri como candidata europeia, mas há muitas pessoas a concorrer a este cargo. É preciso esperar pelo final de dezembro para sabermos o resultado do concurso.

Se for escolhida para diretora-Geral da ESA será a primeira mulher no cargo e o mais novo diretor-geral de sempre.
Sim, tenho 41 anos, mas acho que não é por ser mulher ou por ser nova que a minha candidatura ao cargo deve ser avaliada mas sim pelas boas ideias que eu possa ter para o futuro da Europa. E por ser uma candidata europeia.

Nesta segunda-feira a PTSpace realizou uma assembleia-geral em que nomeou um presidente provisório até à contratação de um presidente definitivo. Quando é que este processo estará concluído?
Foi nomeado um presidente interino, Ricardo Conde, que já era membro da direção da agência, e anunciada uma vaga para o cargo que será preenchida definitivamente no verão de 2021, depois de um concurso internacional.

Itália e França são os únicos Estados-membros da ESA que têm lançadores (foguetões), o Vega e o Ariane. Este facto dá-lhes mais influência na agência?
Eu não diria dessa maneira porque os lançadores são europeus, embora tenham uma grande participação desses dois países. De qualquer maneira isso não lhes dá mais influência na ESA. São questões importantes para esses países porque são muito ativos nos lançadores e quando falamos de lançadores isso influencia as suas políticas nacionais a nível europeu, sem dúvida. E obviamente cria a necessidade de discussão e de negociações com os outros Estados-membros. Mas a Alemanha também tem uma participação muito forte na Estação Espacial Internacional (ISS) e na Holanda está localizado o ESTEC, o Centro Europeu de Pesquisa e Tecnologia Espacial da ESA. Enfim, cada Estado-membro pode trazer alguma coisa de especial para a agência. Claro que do ponto de vista europeu precisamos de ser independentes no acesso ao Espaço e as contribuições de Itália e de França são sem dúvida importantes para realizar este objetivo.