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Sociedade

Os efeitos adversos da pandemia nas crianças portuguesas

Um conjunto de especialistas, que inclui Sobrinho Simões, Daniel Sampaio e Maria de Belém, alerta para o esquecimento das crianças nas decisões tomadas ao longo dos últimos meses: "Durante esta terrível crise, as próximas iniciativas não poderão servir apenas os interesses dos adultos."

Getty Images

Quando teve início esta pandemia, os pediatras, pais e professores ficaram tranquilos. Pelos relatos da China a nova covid-19 apresentava-se com formas clínicas muito graves, por vezes mortais nos mais velhos e até em adultos mais jovens, mas poupava as crianças. As crianças infetadas eram, na sua quase totalidade, assintomáticas ou apresentavam uma clínica idêntica às restantes viroses, tão comuns na infância. Posteriormente verificou-se que a doença podia, ainda que muito raramente, assumir formas graves também na criança.

Contudo, começou a circular, oficialmente e nos meios de comunicação social que, as crianças, sendo assintomáticas, seriam também mais contagiosas. Era por isso necessário proteger os adultos da sua companhia, em particular os mais idosos, os avós. E os netos foram disso informados, criando neles uma inaceitável noção de culpa por este afastamento. Por imposta tutela, foi assim retirada subitamente às crianças a possibilidade de manterem, no seu conturbado dia a dia, o contacto e proteção tradicional dos avós, figuras fundamentais ao seu desenvolvimento. Entretanto, a teoria da maior contagiosidade não se confirmou. Alguns estudos realizados revelam que o contágio por crianças até será menor do que o de adultos pre-sintomáticos. Mas, apesar da sua não confirmação, o conceito de risco de contágio aumentado tem-se mantido, inclusive quando a criança, com consequências prejudiciais para a sua saúde, continua a permanecer fechada em casa e sem a menor possibilidade de contrair a infeção.

A escola tradicional e o contacto com outras crianças e professores também cessou, com consequências igualmente adversas. As crianças ficaram exclusivamente dependentes da família nuclear, frequentemente com problemas psicológicos associados ao medo e insegurança e, por vezes, ainda com inesperados e graves problemas económicos. O tele-ensino veio pôr a descoberto conhecidas assimetrias no acesso à internet, a computadores e televisão e aos diferentes níveis de literacia dos pais.

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