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Sociedade

O adeus ao corpo. Como a cremação está a conquistar os portugueses

O número de cremações em Portugal cresce como nunca, e a pandemia pode ter acelerado a transição. No ano passado, mais de 21 mil pessoas preferiram que a terra não fosse a sua última morada e os números de 2020 prometem uma revolução na hora da morte. Espelho de uma grande mudança na forma como a sociedade encara o fim da vida? Em Lisboa, as cremações já são a maioria, e o país está a acompanhar a tendência

Ilustração Gonçalo Viana

Era uma verdadeira matriarca, mulher agregadora que juntava a família toda à mesa, divertida na maior parte dos momentos, que tinha desde sempre uma ideia fixa na sua cabeça. Manteve-a até ao fim, quando além de 10 netos contava já também com 21 bisnetos. Josefina de Jesus não queria ser sepultada, tal era o medo de ser enterrada viva, e dizia-o sem preconceito. Normalizou-o na família, já um filho tinha sido também cremado, e a decisão de todos foi cumprir a sua vontade. “Isto para nós nem era uma questão, porque nenhum de nós queria ir ao cemitério, nunca fomos de estar enfia­dos no cemitério a visitar campas de familiares”, conta a neta mais nova, Marta Dias. E isto era a escolha entre o enterro e a cremação.

Prática e habituada a procurar soluções num curto espaço de tempo, a ergonomista e CEO da PraxisD, lembra que após a morte da avó, aos 98 anos, foi a mãe a levar a urna para casa, mas esse não foi o destino final das cinzas. “As minhas tias achavam que não era bom tê-las em casa, tinham essa crença, e não descansaram enquanto não se encontrou outro local.” Os netos juntaram-se, pensaram em várias soluções, mas não chegaram logo a um consenso. É que as casas que pertenciam à avó já tinham sido vendidas, não havia um lugar que fosse dela. “E também não íamos depositá-las na casa das outras pessoas”, brinca Marta, que ainda pensou em largar as cinzas ao mar. “Até tenho uma amiga com barco que faz isso, mas não havia qualquer ligação especial da minha avó ao mar, então não fazia especial sentido.” Chegaram à conclusão que o mais simpático seria que as cinzas fossem depositadas num local de encontros familiares.

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