O Hospital de São João, no Porto, está a pedir aos médicos para irem trabalhar além da escala que tinham definida para estes dias. A unidade de referência para a epidemia de covid-19 na região norte tem atualmente 17 doentes internados e várias pessoas sob avaliação, necessitando com urgência de reforçar as equipas assistenciais, apurou o Expresso, junto de um responsável daquele centro hospitalar.
Neste momento, e como é indicado em situações epidémicas já com várias transmissões secundárias do vírus, há doentes isolados em enfermarias conjuntas. O hospital tem quartos com três camas e vários infetados estão a ser agrupados por data dos sintomas, por sexo e até por ligações familiares, por exemplo juntando pais e filhos.
Face ao padrão de propagação do vírus até agora identificado na região, muito associado a contactos no seio da família e em contexto laboral, os especialistas admitem que o número de casos continue e aumentar, sobrecarregando o fluxo de pessoas admitidas para confirmação laboratorial da doença ou hospitalização, em caso positivo. Até agora, os médicos têm conseguido garantir os acessos dedicados ao hospital, mantendo um circuito isolado das restantes áreas do São João, mas a qualquer momento poderá ser necessário encontrar caminhos alternativos.
Prevendo uma sobrecarga nas admissões de pessoas com suspeitas da infeção, sábado foi instalado um hospital de campanha do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) nas imediações da unidade portuense. Ao Expresso, um especialista do hospital explicou que a infraestrutura do INEM ainda não está equipada e que não há indicação concreta sobre quando e como vai funcionar em articulação com o hospital.
Altas poderão ser antecipadas para libertar camas
A par das diligências assistenciais, com o reforço de médicos, e logísticas, com a instalação de um hospital de campanha, os especialistas do Hospital de São João estão a ponderar alterações na atuação clínica. Em análise está a possibilidade de os doentes ligeiros terem alta para o domicílio antes dos 14 dias de isolamento protocolados para o combate à propagação do vírus. Antecipando a alta médica para casa, com vigilância ativa das equipas, será possível libertar camas para isolar casos suspeitos e internar os doentes que vão dando entrada no hospital.
Na região Norte há também já outros hospitais, na segunda linha de resposta, a receber doentes ou preparados para tal assim que seja necessário. São os casos do Santo António (Porto), Braga, Matosinhos e Vale do Sousa. A distribuição dos casos está a ser feita pela Linha de Apoio ao Médico (LAM), também já reforçada. Na sexta-feira a Ordem dos Médicos estava a apelar à adesão de clínicos para atendimento neste serviço telefónico e já tinha enviado uma lista com 20 nomes.