A volta ao mundo da “Sagres” é uma aventura ‘dois em um’, que leva até Tóquio a bandeira da delegação portuguesa às Olimpíadas de 2020 e visita muitos destinos da rota magalhânica durante 371 dias.
A “Sagres” vai ser uma verdadeira embaixada de Portugal na capital do Japão — onde atracará a 18 de julho — apesar da ida a Tóquio representar um pequeno desvio à viagem que Magalhães começou e o basco Elcano terminou.
O comandante da Sagres Maurício Camilo fala da viagem em que participam 142 pessoas, neste Podcast do Expresso, que pode ouvir clicando neste ficheiro de audio.
Ao contrário da expedição comandada por Fernão de Magalhães há 500 anos — que saiu de Sevilha a 10 de agosto de 1519 — a Sagres saiu de Lisboa, mais precisamente da zona do terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, ao fim da manhã deste domingo.
A armada de Fernão de Magalhães — que muitos historiadores consideram o mais genial navegador de todos tempos — era composta por cinco naus, e a Sagres partiu sozinha para uma aventura que vai ser longa, mas menos terrífica do que aquela que mais de duas centenas de homens enfrentaram há cinco séculos.
Uma mulher no leme
A provar que os tempos mudaram, ao leme da Sagres está a tenente Diana Azevedo, que entrou para a Marinha em 2008. Diana tem 29 anos e encara esta viagem como o seu maior desafio profissional: “Vou aprender muito na minha área, a meteorologia. Vai ser uma experiência totalmente diferente do que estávamos habituados, principalmente pela duração da missão” explicou à agência Lusa.
Tenerife, no arquipelago das Canárias, vai ser a primeira das 23 escalas da Sagres, a 13 de janeiro.
A primeira viagem do navio escola Sagres começou a 25 de abril de 1962. Desde então a Sagres já fez três viagens de circum-navegação (1978/79, 1983/84 e 2010), mas nenhuma delas foi tão longa (em dias) como esta.
Para alimentar os 142 tripulantes, a dispensa de bordo está recheada de arroz, massa e enlatados. Há fruta e legumes que duram até à próxima escala e os frigoríficos levam cerca de “12 mil quilos de carne e peixe” congelados de acordo com a Lusa. Para que não falte nada, duas toneladas de bacalhau, três mil quilos de batatas e mil de cebolas.
As garrafas de plástico foram vetadas, em nome das boas práticas ecológicas, e foi feito um protocolo com a Epal para garantir um sistema de purificação de água.
Quem foi Fernão de Magalhães?
Era português apesar dos espanhóis o terem tentado ‘nacionalizar’. Poderá ter nascido em Sabrosa, como defende José Marques (presidente da unidade que coordena as comemorações do lado português), ou poderá ter nascido no Porto, como admite Paulo Jorge de Sousa Pinto, investigador do CHAM da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Este génio da navegação tinha 39 anos quando partiu para a sua expedição ao serviço da coroa espanhola. Visto do futuro, podemos dizer que D. Manuel, rei de Portugal, avaliou mal o projeto de Magalhães e recusou-lhe “um aumento da sua pensão”, como disse o historiador Luís Filipe Thomaz, autor do livro “O drama de Magalhães e a volta ao mundo sem querer”.
Mas a expedição foi de facto um empreendimento internacional, no sentido contemporâneo do termo, que aliou o saber português, ao capital espanhol, e reuniu a bordo homens dos quatro cantos do mundo. A bordo esteve também o cronista italiano Antonio Pigafetta, cujo precioso relato permite reconstituir os acontecimentos.
Dos 237 homens e cinco naus que zarparam de Sevilha em agosto de 1519, regressaram, em setembro de 1522, 18 marinheiros famélicos numa única nau. Magalhães foi morto nas Filipinas e nunca voltou.
A sua morte fez com que os sobreviventes que tinham menos conhecimentos como navegadores, procurassem uma nova rota de regresso. E foi assim que o basco Juan Elcano se celebrizou com a sua viagem de volta ao mundo.
O Expresso vai acompanhar a aventura da Sagres e contar muitas histórias aos seus leitores nos próximos 371 dias.