O dia mais longo foi também o último do interrogatório a José Sócrates na fase de instrução da Operação Marquês. Oito horas - a juntar às 26 dos primeiros quatro dias de perguntas do juiz Ivo Rosa - foram necessárias para esclarecer todas as dúvidas relacionadas com os 31 crimes imputados pelo Ministério Público ao ex-primeiro-ministro.
Neste último dia esteve em foco o célebre apartamento de Paris, avaliado em três milhões de euros, que o Ministério Público diz ser de José Sócrates e ter sido comprado com fundos de origem "venal", como pagamento para atos de corrupção que começaram assim que foi eleito como primeiro-ministro.Sócrates alega que o apartamento é de Santos Silva e que viveu lá por favor especial do amigo.
Segundo a SIC, Sócrates terá justificado o dinheiro que movimentava com uma herança de "um milhão de contos" (cinco milhões de euros) que a mãe, Maria Adelaide, recebeu.
O principal arguido da Operação Marquês quer evitar já ter que ir a julgamento e deixou isso claro à entrada para o quinto dia de interrogatório quando classificou a acusação de "monstruosa" e garantiu que não quer deixar "pedra sobe pedra" do despacho de 4083 páginas do procurador Rosário Teixeira.
No final da maratona - esta terá sido mesmo a última sessão de interrogatório a Sócrates - o ex-PM declarou aos jornalistas que o esperavam: "Foi muito exaustivo e, como vos disse à entrada, vim aqui com um espírito inicial de repor a verdade. Não ficou pedra sobre pedra nesta acusação. Saio muito satisfeito”.
Carlos Santos Silva, o amigo de José Sócrates e suposto testa-de-ferro de mais vinte milhões de euros que, segundo o MP. foram parar às.mãos de Sócrates será o próximo arguido a ser ouvido.
Ivo rosa, que já tinha inovado ao não permitir a entrada dos jornalistas assistentes do processo, obrigou os advogados de defesa a deixarem os telemóveis à porta como forma de evitar fugas de informação.
Depois de ouvir todas as testemunhas e arguidos que quiseram falar, o juiz Ivo Rosa terá de decidir se leva os arguidos a julgamento nos mesmos termos da acusação, se retira alguns dos crimes ou se iliba já algum ou todos os arguidos. Não é previsível que haja uma decisão até ao final de 2019.