A greve é para avançar, com serviços mínimos e por tempo indeterminado. Esta é a decisão dos dois sindicatos de motoristas que estiveram reunidos esta tarde, em Aveiras de Cima. Jorge Cordeiro, do sindicato independente, e Francisco São Bento, do sindicato dos motoristas de matérias perigosas, falaram à vez, mas para dizer o mesmo.
Até haver uma resposta definitiva e uma proposta da Antram a greve é para avançar, garantem os representantes dos trabalhadores. A paralisação começa na segunda-feira.
Francisco São Bento reafirma que os motoristas só negoceiam com os patrões quando estes aceitarem a proposta de 900 euros de salário-base. Uma declaração que mantém o essencial do braço de ferro com a ANTRAM. Recorde-se que a associação patronal tem praticamente fechado o contrato coletivo de trabalho para 2020 com a FECTRANS, federação de sindicatos da CGTP, com um salário-base inferior.
Pedro Pardal Henriques, porta-voz do sindicato, afirmou no final do plenário estar convicto que o Governo e os patrões os vão convocar para conversar. “A greve mantém-se até isso acontecer.” Garante que a ANTRAM negou todas as propostas apresentadas pelos sindicatos e que se tem sentido protegida pelo Executivo de António Costa. “A postura deles tem sido irredutível.”
Questionado se esta greve colocava a opinião pública contra os dois sindicatos, disse não ter dúvidas de que os portugueses “compreendem” a sua luta. “O país não está em suspenso. Olha para estes motoristas como estando a ser injustiçados pelas empresas e pelo Governo.”
Sobre o cumprimento dos serviços mínimos, assegura que são os patrões que não estão a respeitar a lei, ao não enviar com 48 horas de antecedência as escalas. “Essas horas já passaram. É um atropelamento de tudo o que é legal. Só não fazemos melhor porque não nos estão a deixar fazer melhor.”
Tanto patrões como estes dois sindicatos têm dado sinais claros de que não vão ceder nas suas propostas, o que deixa este delicado dossier num impasse.
Algumas centenas de motoristas de pesados estiveram presentes em Aveiras de Cima, no edifício da Junta de Freguesia. A organização deixou o Expresso e a Sic Notícias espreitar a lotação da sala onde decorre o plenário. Era difícil contabilizar exatamente o número de pessoas mas encontravam-se seguramente entre 200 a 400 motoristas na reunião.
O plenário dos motoristas de pesados durou mais de duas horas, sem qualquer sinal do que se passa no interior da sala - à exceção de algumas salvas de palmas.
À entrada, Francisco São Bento, presidente do sindicato dos motoristas de matérias perigosas, tinha dito ser “pouco provável” o adiamento da data da paralisação. Criticou também os serviços mínimos decretados pelo Governo que “são contra o direito à greve”. Garantiu ainda que os trabalhadores vão cumprir “escrupulosamente a lei”, e que não vai haver da parte deles qualquer tipo de violência ou falta de civismo.
Questionado sobre se algo poderia mudar até segunda-feira dia 12, respondeu: “Tudo é possível.” O dirigente reafirma que os motoristas de matérias perigosas querem um salário-base de 900 euros e que o trabalho extraordinário seja remunerado.
Mostrou ainda um documento em que diz revelar que as empresas, por iniciativa própria, estão já a distribuir os serviços mínimos aos trabalhadores, desrespeitando assim a lei. E a assumir uma requisição civil. “Estão de má fé. São os sindicatos que têm de distribuir os serviços mínimos 24 horas antes da greve.” Questionado se os sindicatos iriam prolongar a greve por várias semanas ou meses, respondeu: “Não precisamente.”
No pavilhão onde decote o plenário estarão umas poucas centenas de motoristas dos dois sindicatos. “Os lugares sentados estão todos ocupados e há muitas pessoas de pé”, garante um motorista que se encontra à porta da reunião que está vedada aos jornalistas.
Apesar da tensão dos últimos dias entre sindicatos, patrões e Governo, não existe qualquer tipo de cordão policial junto ao edifício. O edifício ao lado da sala da junta de freguesia é da GNR mas não há um só militar nas imediações.