'Cohousing em Portugal - Viver Sustentável' é o tema da conferência internacional que, esta sexta-feira, terá lugar na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e irá juntar investigadores nacionais e estrangeiros, académicos, políticos, autarcas e empresários para debater as vantagens da habitação colaborativa sénior em Portugal, em detrimento da institucionalização em lares ou da vida a solo quando falha retaguarda familiar.
Organizada pela associação, sem fins lucrativos, Hac.Ora Portugal Sénior Cohousing, fundada maio de 2018 e presidida pelo ex-presidente da Câmara do Porto Nuno Cardoso, a iniciativa visa “uma primeira abordagem à nova geração de políticas de habitação”, focada na população sénior, mas que o antigo autarca vê com bons olhos possa acolher também jovens que procuram casa partilhada.
“É uma espécie de república, mas com regras à medida das necessidades dos idosos e com serviços de apoio partilhado”, resume Nuno Cardoso, que lembra que a população portuguesa atravessa um processo de envelhecimento acelerado, resultante do cruzamento do aumento da esperança média de vida, da diminuição da natalidade e ainda da saída dos jovens para o estrangeiro. “Temos 3,6 milhões de reformados, que representam 34% da população nacional”, números que, sustenta Nuno Cardoso, impõem uma mudança de visão da habitação que melhore a qualidade de vida e bem-estar de idosos sem problemas de saúde ou motores incapacitantes e “que querem manter-se ativos”.
Cohousing, uma ideia lançada pelo PSD
“Em vez de estarem sozinhos em casa, poderão manter a sua independência de saídas num ambiente de convívio e de autogestão do equipamento, com divisão de tarefas”, refere António Tavares, afirmando conhecer vários idosos que gostam de cozinhar, outros de jardinar ou trabalhar em hortas comunitários. O projeto piloto de 'cohousing' da Santa casa do Porto está em fase de estudo de arquitetura, a instalar num imóvel da instituição, no Porto, e gizado, numa primeira fase, para oito a 16 pessoas. “Julgo que será possível ter o projeto no terreno no próximo ano e meio”, acredita António Tavares, embora frise que a celeridade também dependerá do enquadramento legal e fiscal do mesmo, “dado ser necessário um regime de seguros e acidentes pessoais para este tipo de habitação coletiva”.
Nuno Cardoso avançou ao Expresso que, na passada semana, foi recebido pela Comissão Parlamentar para a nova Lei de Bases da Habitação, sendo um dos oradores da conferência internacional desta sexta-feira o deputado do PS Hugo Pires, nomeado coordenador do grupo de trabalho para a habitação, no final do ano.
Este novo tipo de habitação colaborativa foi uma das ideias lançadas por António Tavares, na Convenção Nacional do PSD, sábado passado, defensor de uma nova política social de habitação face ao crescente envelhecimento da população. O provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto é apologista do retardamento da institucionalização dos idosos em lares, sendo a solução do 'cohousing' a que melhor se adequada à qualidade de vida da terceira idade, por permitir combater a solidão e criar mecanismos de interajuda.
A bússola que veio do norte para o sul
Para António Tavares, esta nova política de habitação apresenta-se como resposta num país com maior idade média da UE (44,7%, em 2017), ocupando Portugal o quarto lugar do 'ranking' europeu com maior percentagem de população com mais de 65 anos (20,9%, em 2016).
Apesar de só agora começar a ser pensado em Portugal, o primeiro projeto de 'cohousing' remonta ao início da década de 1970, na Dinamarca, onde 8% da população reside neste tipo de habitação. Segundo dados da Hac.Ora, no Reino Unido existem 21 'cohousing', na Suécia 47 e na Alemanha, só em Berlim, 127. Apesar da resistência do sul da Europa, onde ainda existe uma ideia "conservadora da família como retaguarda dos progenitores", diz António Tavares, o 'cohousing' começou a ganhar adesão em países como Itália ou Espanha, com 40 projetos em desenvolvimento.
O provedor da Santa casa da Misericórdia do Porto lembra que a mobilidade e exigências profissionais ou constrangimentos financeiros familiares “nem sempre permitem um acompanhamento próximo dos idosos”, encarando a habitação colaborativa como uma alternativa saudável à inclusão social até mais tarde e até mais sustentável do ponto de vista económico. “Temos idosos a viver sozinhos em casas enormes, que um dia foram de famílias numerosas, com reformas insuficientes e grandes despesas fixas que impedem que tenham uma vida ativa de qualidade”, refere António Tavares, concluindo que a partilha de espaço e despesas comuns, como internet, lavandaria e refeições em grupo, facilita não só o convívio, como maior bem estar com menos custos.
O reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, e Rui Moreira irão abrir o debate, enquanto o ministro do Ambiente, Nuno Cardoso e o presidente executivo da Altice, Alexandre Teixeira Fonseca encerrarão a conferência, ao final da tarde.