Sociedade

A alimentação do futuro vai parecer-se com a da ficção científica?

Aos padrões atuais, a Terra não vai poder alimentar 9 mil milhões de pessoas. Os insetos são uma solução

DR

Panadinhos de gafanhotos, salada produzida em agricultura vertical, brócolos de hidoponia caseira e carne clonada in vitro. Este menu causa-lhe estranheza? Então é porque o leitor está a petiscar um snack ainda no presente enquanto lê este artigo sobre a alimentação do futuro.
Ao contrário do que se previa há 50 anos para o início deste século, não nos alimentamos exclusivamente hoje, nem o faremos daqui a 20 anos, de pastas proteicas pré-preparadas e embaladas em asséticas doses individuais, rematadas por sobremesas liofilizadas, tudo pronto a levar para o embarque na próxima nave de partida para Marte.

O futuro da alimentação depende de um conjunto de fatores que vêm a desenhar-se há décadas e ao qual se sobrepõe o mais disruptor de todos: as alterações climáticas.

Um relatório das Nações Unidas de finais de 2016 alertava para o que se assumiu como evidente menos de dois anos passados: as medidas para reverter as consequências das alterações climáticas têm um prazo muito curto. Por este andar, a produção de alimentos poderá/vai tornar-se impossível em áreas vastas do mundo e isso vai ter uma tradução trágica: haverá mais de 120 milhões de pessoas a viverem em pobreza extrema já em 2030.

Como sublinhava aquele relatório da FAO, a Organização da ONU para a Alimentação e Agricultura, não será possível erradicar a pobreza sem “a adoção generalizada de práticas sustentáveis na terra, água, pescas e florestas”. O problema está no “generalizadas”, porque o desafio identificado por estes estudos é de monta. Trata-se de tentar erradicar a fome e a pobreza ao mesmo tempo que se tenta estabilizar o clima a nível global.

Entretanto, não é novidade a pressão sobre os solos que implica produzir alimentos capazes de satisfazer sete mil milhões de pessoas (que serão nove mil milhões em 2050) em todo o planeta ao mesmo tempo que países como a China sofrem significativas alterações de padrões de comportamento.

As agências governamentais e agências da ONU identificam as medidas e fazem recomendações: o tempo para agir é “já”. Do lado político, o ritmo é outro e o acordo global uma miragem. Além do ritmo, há políticas em vigor, tais como a de subsídios à utilização de fertilizantes e pesticidas sintéticos, que minam a adoção de técnicas mais sustentáveis.
Baratas de escabeche

Os desafios até 2050 nesta área, identificados pela Agência Estatal para a Ciência do Reino Unido no início desta década, são cinco e representam uma conclusão de 400 peritos de várias áreas oriundos de 35 países. Passam pelo reequilíbrio dos modos de produção e por uma maior sensatez no consumo com vista a maior sustentabilidade e o combate à volatilidade dos preços de mercado, de modo a proteger os produtores de menor escala.

Daqui até lá, pode ser que medidas como “não comer carne às segundas-feiras” viessem a ter uma contribuição positiva, caso fosse possível orquestrar o mundo nesse bom sentido.

O que já é tomado por certo é que a revolução passará pela agricultura vertical e pela multiplicação em escala de produção de plantas hidropónicas (ou sem raiz na terra), as quais poderão vir a substituir os frutos e vegetais que se consomem hoje em grandes quantidades. Juntando as colheitas geneticamente manipuladas e a produção de carne sintética já se consegue imaginar uma alteração dos padrões atuais, sugere o inventor e futurista norte-americano Ray Kurzweil.

Se não se reduzir o consumo de carne vamos certamente acabar a comer insetos, uma tendência popular em grande parte da Ásia. Os insetos são reconhecidos por serem ricos em proteínas, pouco gordos e uma boa fonte de cálcio... Resta saber como resistir à visualização de um ensopado de minhocas.