Sociedade

Bodas à la carte

Eles tratam de tudo no dia mais importante da sua vida. Os wedding planners 
estão aí para organizar o casamento perfeito
d.r.

As fãs da série de culto “O Sexo e a Cidade” conhecem a figura do wedding planner desde 1998, pelo menos. Anthony foi o escolhido de Charlotte (a morena romântica, para quem casar e ter filhos era o sonho de infância) para lhe organizar o (primeiro) casamento. Quase 20 anos depois, a figura do wedding planner chegou em força a Portugal. Cerca de 300 pessoas vivem deste negócio no nosso país, assegura um profissional da área. O destino Portugal está na moda, também para casar. Cada vez mais estrangeiros optam por um casamento de sonho no nosso país, a um terço do preço de casa. Ainda conseguem juntar uma viagem e uma experiência inesquecível, limitar a lista de convidados a quem mais gostam, e garantir um casamento diferente. Dito assim, como não estar interessado?

Não são só os estrangeiros a contratar um wedding planner, embora constituam “60% a 80% do mercado”, afiança Rui Mota Pinto, há 26 anos na profissão. O veterano deste sector em Portugal só aceita “12 casamentos por ano”, e conta com alguns casais portugueses no portfolio. Mas, porque recorrem as pessoas a um wedding planner? “Porque está na moda; porque não têm tempo; ou porque querem ter um casamento completamente diferente”, explica Mota Pinto, que é certificado pela American Association of Wedding Planners, em Nova Iorque.

Casar na praia é um pedido frequente 
dos destination weddings em Portugal. Ou na serra de Sintra, ou num palácio, ou num castelo. O nosso país oferece essa diversidade
d.r.

Nessa ‘diferença’ que marca um casamento organizado por um profissional, ‘cabe’ uma boda numa biblioteca fabulosa que ninguém sabia existir, num castelo ou num palácio, ou num kartódromo, para dar alguns exemplos. Tudo depende da história dos noivos e do que fizer sentido para eles. Rui ressalva, desde logo: “Todas as decisões, sou eu que as tomo.” Conhecer a história do casal é o ponto de partida. “Para mim, o casamento é o somatório de passado, presente e futuro. Quem era cada um individualmente; quem é, agora, o casal; e quem querem ser.” Depois, Rui foca-se na “maneira como querem contar a sua história” — e aqui, a sua costela de espetáculo, fruto da escola nova-iorquina, é “parte da assinatura”. “Nova Iorque está sempre presente nos meus casamentos, assim como a história e a identidade do casal.”

Rupali Kanabar especializou-se na organização de casamentos 
indianos em Portugal. Este ano, já conta 17 bodas
d.r.

Já organizou cerimónias em bibliotecas, como a celebrada em maio de 2016, no palácio Conde de Óbidos, sob o conceito da literatura — já que toda a história dos noivos passava pelos livros e pelo seu encontro. Esse casamento foi tão original que venceu um prémio internacional nos Belief Awards, sedeados em Nova Iorque. Também já organizou um casamento medieval no Castelo de Óbidos, e até já colocou convidados a jantar na pista de um kartódromo no Bombarral (o noivo era piloto de karts). Cada casamento de Mota Pinto é construído de raiz, e só a taxa é fixa: de €6000 a €7500. Garante que já organizou bodas por €5000 e outras de €500.000. Uma coisa é certa: nunca abdica da qualidade.

Segmento de luxo

Jasmine Lazzari começa logo por dizer-nos que não organiza casamentos portugueses: “Não têm orçamento para mim.” O seu nicho é o dos casamentos de luxo, afirma a italiana educada em Londres, que cobra no mínimo €60.000 por uma boda com 100 convidados. Há dez anos, quando veio morar para Portugal, “este mercado não existia”, partilha. Hoje, pelo contrário, o nosso país é uma popular wedding destination — casamento celebrado fora do país de origem —, e recebe dezenas de “casais norte-americanos, angolanos, australianos”... No público de Jasmine entram nichos mais específicos como os parisienses ou casais do Médio Oriente, conta ela, que organizou há pouco tempo a cerimónia do filho do Presidente do Afeganistão no Dubai. “É um universo muito pequenino, este dos bons wedding planners, toda a gente se conhece.”

Rui Mota Pinto trabalha cada casamento individualmente, em torno de um conceito
d.r.

Há oito anos, organizou um casamento de meio milhão de euros, mas neste momento há uma procura nunca vista. “Portugal tem muitas condições para receber casamentos”, partilha, explicando que os seus clientes são “multiculturais”, como ela, com vivências do mundo. No passado fim de semana, organizou em Madrid um casamento de dois norte-americanos, para 150 convidados. E “para a semana, chega a Portugal um casal de Nova Iorque que nunca veio a Portugal”, mas que escolheu este destino. Este formato de casamento desenrola-se geralmente em três dias: o da chegada do casal e dos convidados, que inclui um jantar de boas-vindas, “num restaurante com uma vista bonita, ou num castelo, com DJ e música”; o grande dia da cerimónia; e o day after, pontuado por um brunch mais tardio e informal.

Além da componente da aventura e de passeio — a maioria dos convidados fica sempre mais uns dias, para conhecer o país —, este tipo de casamento permite restringir a lista de convidados a um círculo mais íntimo. Essa é uma das razões dos clientes de Rupali Kanabar escolherem Portugal para casar.

Portuguesa de origem indiana, a viver no nosso país desde 1983, começou a organizar casamentos deste tipo há quatro anos, quando percebeu que havia uma lacuna no mercado para este público. “As bodas indianas são muito complexos — a nível de decoração, alimentação, costumes religiosos... Duram sempre três dias... Cada Estado na Índia tem as suas tradições” — e pouca gente as conhecia em Portugal. A primeira boda que organizou foi na Penha Longa, para 320 convidados. Depois, face à procura, juntou-se a uma sócia e estabeleceu-se como wedding planner.

Este ano, já celebrou 17 casamentos indianos, “que equivalem a muitos mais do que os europeus, pelo número de convidados e de refeições, pelos dias necessários...”. O seu orçamento não é para todos — pode cifrar-se nos €20.000 para 80 convidados, ou chegar ao meio milhão de euros (já com hotéis e estadas). Há uns anos, organizou uma cerimónia no Hotel Ritz, em Lisboa, que chegou a um milhão. Não é isso que afasta os seus clientes, principalmente indianos a residir na Europa, Canadá ou EUA.

Também Viktoria Ignateva, há cinco anos em Portugal, se especializou no nicho de casais russos que procuram o nosso país para casar. Pedem-lhe muito bodas “em palácios, como no do Buçaco, em quintas, ou na praia. Todas as noivas querem ser princesas”, garante. Este ano, já conta 37 casamentos sob a sua orientação, os mais pequenos com custos entre os €3000 e os €15.000, os maiores entre os €20.000 e os €50.000.

A receita gerada com este negócio já é apreciável. Em 2014, um relatório da Exponoivos, baseado em dados do INE, Pordata e numa pesquisa realizada pela NewEvents Global junto dos operadores do mercado e dos noivos, garantia que Portugal gerava cerca de 605 mil euros nesta área. De então para cá, a tendência foi de crescimento. Não sabemos se os noivos que recorrem a wedding planners serão felizes para sempre. Mais importante será saber o que dizem se lhes perguntarmos se o seu dia de casamento foi inesquecível. A maioria deu o sim.