Sociedade

Pneumonia em crianças e substituição de válvulas cardíacas sem tratamento de topo nos hospitais portugueses

Regulador da Saúde avaliou os cuidados prestados por hospitais públicos e privados e a nenhum deu nota máxima no tratamento das infeções respiratórias pediátricas mais graves e na cirurgia valvular. A culpa é dos antibióticos

A utilização de antibióticos para prevenir infeções em cirurgias para substituir válvulas do coração ainda tem falhas
António Pedro Ferreira

A utilização de antibióticos pelas equipas hospitalares continua a não ser a mais correta, sobretudo em pediatria e cirurgia cardíaca. A Entidade Reguladora da Saúde (ERS) estudou 126 das cerca de 160 unidades públicas ou privadas portuguesas e entendeu que nenhuma atinge o nível máximo de qualidade na administração de antibióticos, seja para prevenção ou para tratamento. Em causa estão duas especialidades médicas e duas práticas clínicas concretas: o tratamento de pneumonias em pediatria e a intervenção valvular e outra não coronária em cirurgia cardíaca.

Os resultados divulgados esta terça-feira são relativos à primeira avaliação de 2017 do Sistema Nacional de Avaliação em Saúde (SINAS) e apenas sobre a excelência clínica. Mostram que a ausência de prestadores no primeiro lugar do pódio para as pneumonias em pediatria e para as cirurgias cardíacas valvulares é forçada por falhas na administração de antibióticos.

No caso da pediatria, os peritos entendem que ainda é possível melhorar procedimentos como a colheita de sangue para decidir que medicamento deve ser dado ou reduzir os atrasos no tratamento, garantindo que é iniciado nas primeiras seis horas após a admissão da criança. Já nas operações ao coração para substituir válvulas, a ERS está convicta de que é preciso fazer mais na utilização profilática dos antibióticos, por exemplo na administração uma hora antes da cirurgia ou na interrupção nas 48 horas posteriores à intervenção.

O estudo mostra também que o topo de qualidade está ainda longe em outras áreas, no caso na cirurgia de revascularização do miocárdio e nos cuidados neonatais. Em ambas as práticas clínicas só um prestador recebeu a nota máxima. Na cirurgia cardíaca venceu o Hospital de Santa Marta (Centro Hospitalar de Lisboa Central), por exemplo por ter demonstrado uma correta utilização do antibiótico para prevenir infeções. Já na pediatria, nos cuidados neonatais, destacou-se o Garcia de Orta, em Almada. Além do controlo das infeções, pontuou pelo aleitamento materno exclusivo e pela reduzida mortalidade neonatal intra-hospitalar.

Avaliação global positiva

Apesar de algumas ausências no patamar máximo, a ERS salienta que o sistema de saúde português tem muita qualidade. "Analisando os resultados, destaca-se que dos 160 estabelecimentos atualmente abrangidos pelo SINAS – que representam praticamente todo o universo de prestadores de natureza hospitalar –, 126 (79%) obtiveram classificação na dimensão da Excelência Clínica e 112 (89%) destes conseguiram a atribuição da estrela correspondente ao primeiro nível de avaliação."

A ERS explica que "de uma forma global, estes resultados evidenciam uma melhoria nos valores médios dos indicadores avaliados". Destaca as áreas cirúrgicas de ginecologia, cirurgia do cólon e cirurgia vascular pela "seleção, administração e interrupção da antibioterapia profilática" ou a pediatria, neurologia [AVC], cirurgia de ambulatório, cardiologia [enfarte agudo do miocárdio] ou as unidades de cuidados intensivos e cuidados transversais [avaliação da dor aguda e tromboembolismo venoso no internamento].

Cirurgia de ambulatório soma premiados

Em termos concretos, a cirurgia de ambulatório é o procedimento clínico com mais hospitais no topo da tabela classificatória. O nível máximo de qualidade foi atribuído a 24 unidades. Seguem-se os cuidados relativos a artoplastias totais da anca e do joelho, com 18 instituições distinguidas; histerectomias (extração do útero) e a partos e cuidados pré-natais, ambos com 14 prestadores premiados.

A avaliação é voluntária, feita a partir de dados enviados pelos hospitais ao Regulador , e incidiu sobre episódios de internamento com alta entre 1 de julho de 2015 a 30 de junho de 2016.