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O Futuro do Futuro

Pressão à flor da pele

Empresa luso-irlandesa criou um capacete e uma luva para reduzir efeitos secundários associados à quimioterapia

D.R.

A Luminate Medical não trata o cancro, mas quer reduzir efeitos indesejados dos tratamentos para o cancro. E para isso criou um capacete e umas luvas para uso em sessões de quimioterapia. Nos testes, 75% de um pequeno grupo de pacientes logrou diminuir perda de cabelo e neuropatias que levam à dormência e, em casos extremos, à incapacidade de controlo de mãos e pés. “Nos próximos tempos, vamos alargar testes a vários tipos de quimioterapia”, responde Bárbara Oliveira, diretora de Ensaios Clínicos da Luminate. “O objetivo é chegar aos EUA no início de 2026.”
A Luminate arrancou na Universidade de Galway em 2019 pelas mãos de Bárbara Oliveira, Aaron Hannon e Martin O’Halloran. Depois de uma bolsa e de testes com pacientes da Europa de Leste, a empresa luso-irlandesa, que conta com 30 profissionais, garantiu 15 milhões de dólares de investimento. Os EUA surgem como prioridade — mas a solução serve boa parte dos doentes de todo o mundo, com restrições. “Estes dispositivos não vão estar disponíveis para cancros de pele e cancros do sangue”, explica Bárbara Oliveira.
A quimioterapia elimina células cancerígenas, mas também “afeta os folículos capilares e células do sistema nervoso”. E a solução para estes efeitos adversos chegou em forma de balão. Ou melhor, de vários balões. Tanto capacete como luvas dispõem de compressores que insuflam almofadas de ar para pressionarem a pele. Desta forma, reduz-se a absorção da quimioterapia apenas nas superfícies pressionadas. Já houve projetos que usaram criogenia, mas essa opção revelou-se onerosa e “muito desconfortável”. Por outro lado, o uso da crio­genia permitiu apurar que a reincidência do cancro não aumenta com a redução de absorção da quimioterapia em certas áreas do corpo.
“Quando um doente perde o cabelo, as outras pessoas logo percebem que tem cancro. Afeta a estética, e tem impacto na saúde psicológica”, lembra Bárbara Oliveira. “Se reduzirmos efeitos secundários nas mãos e nos pés, podemos garantir maior qualidade de vida e, eventualmente, reduzir idas aos hospitais.”
O modelo de negócio prevê a venda a clínicas e hospitais. “Queremos que os pacientes usem estas soluções, mesmo quando não as podem pagar”, diz Bárbara Oliveira.