O que sucede a um elevador de um edifício se o cabo de suspensão partir? Se o cabo de suspensão de um elevador partir, o elevador não cai em queda livre, graças a múltiplos sistemas de segurança: utilização de mais do que um cabo, cada um suficiente para aguentar o peso da cabine cheia, e um sistema de freio que trava, em caso de aceleração imprevista. No caso do elevador da Glória só há um cabo, e veio agora a verificar-se após peritagem que os dois sistemas suplementares automático e manual não eram suficientes para imobilizar a cabine. Ou seja, não havia redundância em caso de rotura do único cabo: a travagem dependia apenas do atrito entre duas superfícies metálicas, as das rodas bloqueadas e o carril de aço, atrito esse que neste caso pode variar muito, por estar exposto o carril (chuva, lama, gorduras...). No projeto original havia uma cremalheira que permitia travar a cabine sem depender do atrito das rodas, sistema que foi eliminado há dezenas de anos. A primeira pergunta é: como podia estar a funcionar um elevador, cuja configuração atual não oferecia um mínimo de segurança? A segunda pergunta é esta: a rotura de um cabo multifilar, se não for excedida a sua carga de rotura, só pode ocorrer depois da rotura sucessiva dos filamentos que o compõem. Os pontos de amarração são zonas de concentração de tensões, sendo em consequência as zonas onde se pode iniciar por encruamento/fadiga o processo de rotura, filamento a filamento. Pelos vistos este ponto crítico não podia ser facilmente vistoriado por estar blindado, isto é, a inspeção de rotina omitia necessariamente o acesso a uma zona crítica. Como é costume, perdemo-nos nos pormenores e esquecemos o essencial. As consequências tinham de ser trágicas.