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Ideias

Eduardo, o jovem que compreendeu o país

Diários da juventude de Eduardo Lourenço, que morreu há cinco anos, revelam a construção da sua identidade. E servem de guia para a sua obra

Luís Barra

No primeiro dos seus textos, escrito aos 17 anos, Eduardo Lourenço diz: “Era fora de mim que se morria.” Nessa altura, assinava Eduardo de Faria e treinava a rubrica em tudo quanto fosse folha de papel em busca de uma identidade gráfica. Era um adolescente prestes a ingressar na licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas na Universidade de Coimbra, recém-saído do Colégio Militar com notas pouco mais do que suficientes, e onde como aluno interno se sentira “engaiolado”. Nesse verão de 1940, finalizava essa fase e voltava à terra natal, em São Pedro do Rio Seco, a fim de ganhar balanço para a seguinte. E escrevia uma observação aguda sobre a experiência do tempo numa aldeia da Beira Interior antes e depois da passagem do primeiro automóvel. Este acontecimento, notava, rasgara em dois a realidade, introduzindo o elemento profano num tempo “mítico” e sagrado, medido pela cadência lenta das celebrações religiosas, das mortes e dos nascimentos.