Tenho dois amigos que gostam de bons livros e de objectos utilitários belos. Neste verão passado, num dia de conversa partilhada em sua casa e inspirada à chegada por um livro sobre Espinosa, fui surpreendida por uma colecção que pela sua luminosa simplicidade tenho recordado muitas vezes. Trata-se de uma colecção de formas para fazer bolos e pudins em cerâmica branca, uma série de peças inglesas, da época vitoriana, maioritariamente. Clara no seu sentido e uso, clara na sua materialidade suave, enchia a parede da sala onde estávamos com uma linguagem doméstica e familiar que dialogava, por complementaridade, com o saber escrito nas centenas de livros que sabíamos estarem nas suas costas. Longe da delicadeza das porcelanas brancas e translúcidas japonesas e chinesas, longe, por exemplo do trabalho do artista e designer Edmund de Waal, sobre o qual já falei aqui, estas peças têm uma robustez campesina e pragmática, feita para resistir aos bulícios de uma cozinha — não são para ir à mesa, a maior parte das vezes.