LIVRO
Nestas páginas, há mulheres com um ‘olho à Belenenses’. E também dois polícias a mandar parar um táxi a meio da noite, em Trás-os-Montes. Vemos famílias a atravessar a raia a salto. Quase sentimos nas mãos as reguadas dadas numa escola primária em Mortágua. E sofremos perante miúdos franceses a gozar com as sobrancelhas de uma rapariga de origem portuguesa, numa escola francesa. É claro que a História do século XX português pode também ser feita de grandes frases famosas, como “obviamente, demito-o” ou “para Angola, rapidamente e em força”. Temos de contar com páginas de jornal censuradas ou publicadas, com arquivos de televisão e de rádio, com fotografias salvas da fome democrática do bicho do papel. Mas essa seria sempre uma manta de retalhos incompleta, se fossem deixadas de lado as narrativas das vidas de muitos dos portugueses que emigraram ou se exilaram durante a ditadura de inspiração fascista de António Oliveira Salazar.