Há uns bons 15 anos, Manuel Alegre publicou um texto que ilustra a sua iniciação sexual com uma das criadas da sua casa. Não percebendo porque é que aquele texto não tinha gerado polémica, escrevi uma crónica para dizer duas coisas. Primeira: não compreendia como é que aquela declaração podia passar entre os intervalos da chuva sem uma polémica, sem uma contextualização, sem um comentário, sem uma autocrítica, como mais tarde António Barreto teve a grandeza de fazer. Segunda: como sou neto e sobrinho de criadas e trabalhadoras abusadas por “meninos” e “senhores”, o assunto para mim era e é pessoal. Não me lembro se essa crónica gerou ou não polémica, mas sei que recebi um e-mail de uma senadora da nossa esquerda que dizia duas coisas. Primeira, eu não podia falar assim de Manuel Alegre. Como é que o neto de uma criada se atrevia a criticar o senador?
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Os ultra-conservadores e o papel da mulher: um ensaio de Henrique Raposo
No centro de “Identidade e Família” está uma mentira: as mulheres nunca foram oprimidas, até porque nunca verbalizaram ou escreveram essa revolta! É mentira. Mas antes de irmos a uma lista de bibliografia que regista a revolta das mulheres letradas, temos de olhar para as revoltas silenciosas das mulheres mais pobres iletradas