Luzes, câmara, noção: as salas de cinema foram substituídas por salas de estar. O motivo? “O conforto. É mais fácil ficar deitado no sofá e, às vezes, prefiro do que estar a sair.” Quem o diz é Henrique Macias, um jovem cinéfilo de 24 anos. “Se isso significar que gosto de filmes, pode dizer-se que sim, sou cinéfilo.” De qualquer modo, é melhor recorrer ao dicionário da língua portuguesa para reduzir a probabilidade de uma premissa falaciosa.
“Cinéfilo” significa “pessoa apreciadora de cinema”. Se Henrique Macias aprecia cinema, então — e segundo as aulas de filosofia — pode adjetivar-se como tal. Mas atenção à rasteira. Na primeiríssima definição para “cinema” pode ler-se “arte de fazer filmes para projeção” — e projeção não pressupõe uma ação que acontece no ecrã de uma sala de cinema, mas não numa televisão ou computador? Dúvidas válidas. O dicionário, mais uma vez, ajuda a esclarecer: “projeção” significa “apresentação de imagens numa tela ou ecrã com o auxílio do projetor”.
Surge a questão: só pode ser considerado cinéfilo aquele que alimenta a doutrina através de consumo cinematográfico no próprio cinema? Seja de que maneira for, a periodicidade mensal com que Henrique visita os grandes quartos escuros da sétima arte ronda as duas ou três vezes, o que lhe dá direito ao estatuto.