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A Revista do Expresso

Afinal, o que explica o atraso de Portugal? Uma pergunta que continua sem resposta

O suicídio do escritor açoriano Antero de Quental (1842 - 1891) é o ponto de partida para um livro de Nuno Palma que procura, sem sucesso, explicar as razões que sempre impediram o desenvolvimento do país

Tiago Miranda

Eça de Queirós não soube dizer quais as razões do suicídio de Antero de Quental. Insinuou, apenas, que o ato cometido por esse “génio que era um santo” levou os “homens da nossa Grécia” — a exemplo do que Luciano dissera a respeito do suicídio do filósofo Demónax — a muito “pensar e murmurar”. No máximo da sua compreensão, talvez tivesse sido uma “apagada tristeza” o motivo do suicídio. Ou, como era voz corrente na época, Antero fora vítima do “tédio do mundo e da vida”, expresso de forma convicta nos seus sonetos. Por sua vez, ao seu biógrafo mais qualificado pareceu que, nessa fase derradeira, Antero se debatera com incidentes familiares, como os conflitos com a irmã a respeito das pequenas que protegia e que com ele viviam. Tais incidentes contribuíram “para lhe destruir o equilíbrio do sistema nervoso, sempre frágil e precário”. Ao que José Bensaúde, seu amigo dileto, opôs que Antero há muito pensava em suicidar-se. A este quadro de hesitações, destinadas a explicar o suicídio de Antero, acrescente-se a lista de casos de intelectuais e políticos que também atentaram contra as próprias vidas, em tempos da denominada degenerescência finissecular e da voga das teorias de Lombroso: de José Fontana a Manuel Laranjeira e a Mário de Sá-Carneiro. E, no entanto, a morte de Antero não pode ser reduzida à questão do seu suicídio, pois foram e continuam a ser muitas as apropriações da sua figura desde o seu desaparecimento.