Era uma vez dois chacais, Karataka, cujo nome significava Cauteloso, e Damanaka, cujo nome significava Ousadia. Eram os segundos no comando do séquito do rei leão Pingalaka, mas eram ambiciosos e astutos. Um dia, o rei leão ficou assustado com um estrondoso barulho na floresta que os chacais sabiam ser a voz de um touro que tinha fugido, nada que um leão tivesse de temer. Visitaram o touro e convenceram-no a aparecer diante do leão e a declarar a sua amizade. O touro tinha medo do leão, mas concordou, e assim o rei leão e o touro tornaram-se amigos, e os chacais subiram na cadeia de comando pelo monarca agradecido. Infelizmente, o leão e o touro começaram a passar tanto tempo na conversa que o leão parou de caçar e os animais do séquito ficaram famintos. Assim, os chacais persuadiram o rei que o touro estava a conspirar contra ele e convenceram o touro que o leão estava a planear matá-lo, e assim o leão e o touro lutaram, o touro foi morto e ficaram com muita carne para todos comerem, e os chacais subiram ainda mais alto na consideração do rei, porque o tinham avisado da conspiração, e também subiram na consideração de todos os outros na floresta, exceto, claro, na do pobre touro, mas isso não importava, porque ele estava morto e proporcionava a todos um excelente almoço.
Isto é, muito resumidamente, o enquadramento da primeira e mais longa das cinco partes do livro de fábulas conhecido como “Panchatantra”, intitulada “Sobre Causar Discórdia entre Amigos”. A terceira parte, “Guerra e Paz”, um título mais tarde usado por outro livro bem conhecido, descreve um conflito entre corvos e corujas, no qual o engano de um corvo traiçoeiro leva à derrota e destruição das corujas. Usei uma versão desta história no meu romance “Cidade da Vitória”.