Há uns tempos perguntaram-me por que razão faço tanta questão que o meu filho, com nascimento aprazado para este outono, cresça nos Açores, onde nasci e vivo desde 2012. Ensaiei argumentos numa crónica de jornal — a centralidade da geografia, a presença do mar, a exuberância da natureza — e até cheguei a aflorar a importância, para uma avaliação geral, da paleta socioeconómica disponível: “Porque poderá conhecer uma razoável abundância e todos os géneros de pobreza, contanto consigamos ajudá-lo a munir-se de curiosidade e de amor.” Mas, agora que penso nisso com mais cuidado, percebo que deixei o mais importante de fora.
Quero que o meu filho cresça nos Açores porque, à partida, crescerá inserido na classe média. Nenhum outro lugar em Portugal é tão privilegiado para uma família de classe média como os Açores. Entretanto, um rico vive tão bem no arquipélago como — é da sua condição — onde quer que seja. Já um pobre vive pior do que em qualquer outra região do país, em alguns casos até da Europa. E para o percebermos não precisamos de exercer uma motricidade muito fina. Nem sequer de visitar de facto as ilhas: basta-nos abrir o site do Instituto Nacional de Estatística (INE) ou mesmo o da Pordata.
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