Avoz que ecoa no discurso de Ailton Krenak, de 69 anos, vem do tempo em que homens e natureza não eram entidades distintas, mas um só corpo. Ressoa nas suas palavras uma memória antiga, anterior à criação do conceito de propriedade, ideia que recusa liminarmente. Em lugar da posse, defende a partilha e o diálogo e convoca a comunidade internacional a participar na proteção ambiental como se de um desígnio vital se tratasse, responsabilizando todos e cada um individualmente pelo destino da Amazónia e, consequentemente, do planeta em que vivemos.
Na história do Brasil caber-lhe-á sempre um papel especial: o do jovem que pediu um fato emprestado, subiu ao palanque e pintou a cara de negro em pleno Congresso para envergonhar os políticos que insistiam em não reconhecer os direitos dos indígenas. Conseguiu o que queria, e é por isso que — diz — não se consegue filiar em nenhum partido, porque viveu a experiência da representatividade direta de quem o escolheu para falar perante os legisladores.