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A Revista do Expresso

“Os políticos são profissionais do poder.” Grande entrevista a Jacques Rancière

É o mais importante filósofo francês vivo, formado numa universidade onde figuras como Foucault, Derrida, Deleuze ou Althusser tratavam os alunos como iguais. Professor na Paris VIII, autor de mais de 50 títulos, pensador da política, da educação e da estética, veio a Lisboa dar algum do seu saber. E, aos 82 anos, ainda que confesse não gostar de ouvir-se, falou com o Expresso

É de manhã em Lisboa, a manhã seguinte à da conferência que Jacques Rancière proferiu no CCB, no ciclo “Políticas da Estética: O Futuro do Sensível”. E o filósofo de 81 anos não está muito satisfeito. “É um defeito meu, não gosto de me ouvir”, diz. Mas está disponível para ser ouvido, e não evita perguntas, mesmo tendo avisado que prefere não falar sobre a política francesa.

Existe uma razão de fundo: como é que um homem que passou a sua vida a estudar os fenómenos políticos, que seguiu o marxismo de Louis Althusser (de quem foi aluno) e depois o criticou ferozmente, e que tanto teorizou sobre o conceito de ‘democracia’, pode fugir a analisar a convulsão que hoje assalta o mundo? Professor honorário de Filosofia da Universidade de Paris VIII e na European Graduate School, e um dos mais importantes filósofos vivos, tem obra publicada nos campos da política, da educação e da estética — em especial, do cinema — e interessa-se pelos cruzamentos, pela abolição da separação entre saberes ou, como ele próprio diz, pela tentativa de elaborar “um pensamento que os perpassa a todos e a todos pertence”. Toda a sua produção — mais de 50 títulos — demonstra que amplamente o conseguiu.